Na sociedade patriarcal, o ódio às mulheres se trata de um elemento crucial à estruturação das relações sociais e manutenção dos espaços subalternos e estratificados nos quais o sexo feminino está alocado. Deste modo, a misoginia estrutura-se através de incontáveis meios, estendendo seus tentáculos por aspectos culturais, sociais, psicológicos e relacionais.
Desde a construção do imaginário social, no qual figuras femininas estão relacionadas à fraquezas, traições, hiperssexualização ou pureza infantilizada às opressões factuais em segmentos como a indústria pornográfica ou a exploração sexual, o ódio às mulheres se trata de um mecanismo estrutural e essencial à manutenção da guerra não-declarada contra o sexo feminino.
Em uma sociedade na qual a hipocrisia superficial “condena” agressores, o recalque se estabelece nesta relação de espelhamento na qual o agressor é adorado. Como poderíamos esquecer dos inúmeros estupradores, feminicidas e agressores que recebiam cartas apaixonadas nos presídios e que hoje personificam-se nos famosos que têm significativo aumento de seguidores quando acusados?
Segundo a teórica Andrea Dworkin, “para uma mulher, o amor é definido como sua boa vontade para se submeter a sua própria aniquilação”, e assim, nossa sociedade doutrina mulheres a crerem que a violência física ou simbólica se trata do único caminho à redenção feminina, fomentando assim a culpabilização das vítimas de violência doméstica e afins. Percebe-se que a construção da masculinidade perpassa a violência e o anseio pela aniquilação moral, social ou subjetiva do feminino.
Seja através das redes sociais, do consumo de material pornográfico ou da agressão doméstica, homens expressam o triunfo da misoginia nesta sociedade que sistematicamente explora mulheres.
Como dizia Andrea Dworkin, “o feminismo requer precisamente o que a misoginia destrói nas mulheres: bravura incontestável em confrontar o poder masculino.”