No escopo das sociedades patriarcais, a sexualidade sempre foi utilizada tal como um dispositivo a fim de controlar, utilizar e classificar os corpos das mulheres de modo a não perturbar a estrutura social estabelecida a partir da supremacia masculina. Deste modo, à classe feminina jamais foi permitida a autodefinição sexual, tal como seus corpos foram descaracterizados de subjetividade humana completa, lhes sendo atribuídos estereótipos ou imagens de controle com base nas posições que ocupam.
A ótica patriarcal nos moldes europeus e pós-cristãos, relacionam o corpo feminino ao delito, ao pecado e ao descontrole perante os desejos. Deste modo, mulheres seriam “perniciosas” por natureza, sempre a buscar o desvirtuamento dos homens ou a permitir-se ser o “veículo do Diabo”, dada a sua suposta natureza “emocional”. Em um contexto pós-colonial, estas definições foram maioritariamente atribuídas às mulheres negras. Apesar de antiquados, esses conceitos ainda são utilizados a fim de culpabilizar mulheres e transmitir para nós a responsabilidade pelas violações, estupros, violência doméstica e demais abusos cometidos por homens.
Além disso, a sexualidade feminina foi negligenciada a partir da percepção de que mulheres não podem ser indivíduos desejantes ou que devem converter seus desejos aos desígnios dos homens. Como adicional, cita-se os traumas sexuais geracionais aos quais mulheres foram e são submetidas, tendo a sua autopercepção sexual afetada para sempre. Por conta disso, inúmeras mulheres passam toda a vida a jamais perceberem-se para além dos mitos da promiscuidade feminina ou da suposta “pureza virginal”, que se relaciona à cultura da pedofilia e à obssessão social por corpos cada vez mais jovens.
Nesse contexto, mulheres são continuamente afastadas de sua própria sexualidade e das possibilidades de relacionar-se com outras mulheres ou desenvolver sua própria autopercepção. Por conta disso, faz-se necessário que sempre permitamos o autoquestionamento e a abertura aos questionamentos à estrutura social. Porque a sexualidade se trata de um fator imprescindível na dominação social, cultural, econômica e psicológica de mulheres.
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…