Written by: Feminismo Raiz

Não somos livres

No interior dos estudos contra-coloniais, decoloniais e pós-coloniais, há um ponto que por vezes acaba subdesenvolvido na crítica ao colonialismo: a colonização das mulheres como um grupo e os desdobramentos dessa circunstância em quase todas as culturas conhecidas. A história da colonização territorial, é a história do aperfeiçoamento da colonização das mulheres. Contudo, muitos a resumem a alguns estudos às consequências do colonialismo branco ou asiático sobre outros corpos masculinos, subalternizando-os, ou até mesmo na relação que se dá entre o controle do homem colonizador e do homem colonizado sobre os corpos das mulheres de um povo.

Como mulheres, precisamos estar constantemente atentas aos discursos que não abarcam a completude da nossa experiência social e política, pois muitas são as tentativas de relativizar ou atribuir um verniz liberal a questões complexas que nos atravessam em todos os continentes. No escopo de uma organização social que se dá e se estrutura a partir de uma ótica patriarcal e masculina, nenhuma mulher está livre. Na perspectiva orientalista, grupos tendem a utilizar a situação das mulheres no Oriente Médio e na África a fim de construir a narrativa de que mulheres “ocidentais” ou latinas estão no melhor dos mundos possíveis, quando a exploração sexual, o casamento infantil, o tráfico de mulheres e diversas formas de violações encabeçam estatísticas no Brasil e em outras partes da América do Sul.

De maneira pouco sutil, o discurso patriarcal em torno da suposta liberdade reside nos extremos. Se faz necessário que exista países nos quais a repressão às mulheres se mostre de forma quase caricata, para que passemos a crer na ilusão de que nossa experiência é suavizada e que estamos em posição de julgar-nos livres enquanto as outras, apenas as outras, seriam as oprimidas. Como trazido por mim acima, as nuances da opressão feminina escapam aos olhos de inúmeros teóricos do sexo masculino, sejam eles do século passado ou da contemporaneidade. Os estudos da experiência social das mulheres tendem a ser menosprezados, nichados ou cooptados a fim de construir narrativas que mais nos entorpecem do que nos despertam.

Mulheres seguem cativas em todos os continentes, caminhando — por vezes de forma lenta — rumo à uma emancipação que não sabemos se um dia existirá. Damos saltos de fé. Temos fé nas mulheres.

(Visited 24 times, 1 visits today)
Tags:, Last modified: 5 de março de 2024