A Olimpíada de 2024 entrou para a história como a de maior paridade entre homens e mulheres, totalizando a porcentagem de 50% para cada grupo. Além deste feito, a abertura dos jogos olímpicos abordou aspectos como a história de mulheres marcantes na história francesa e ocidental, discussões em torno da sexualidade e apresentações de peso realizadas por cidadãos negros e mulheres. Contudo, esta “olimpíada da inclusão”, carrega consigo uma mácula que dificilmente será esquecida: um dos atletas presentes nos jogos é um estuprador condenado por violar uma menina de 12 anos.
Steven Van De Velde (29), representou a Holanda no vôlei durante as olimpíadas de Paris. Entre vaias e aplausos, o atleta que foi condenado a quatro anos de prisão pelo estupro cometido contra uma menina de 12 anos. O esportista cumpriu parte de sua pena na Inglaterra e depois foi transferido para seu país de origem, onde teve a pena atenuada – totalizando apenas 13 meses de reclusão. Se torna digno de nota o fato de que o seu crime, ao chegar na Holanda, foi classificado como um “delito menor” de “atos indecentes”, ainda que o atleta tenha consumado o ato sexual com sua vítima.
Além de aceito e reintegrado ao vôlei no país e nas olimpíadas, De Velde deu declarações sobre o estupro ter sido “o maior erro de sua vida”, além do comitê ter afirmado que “havia baixíssimo risco de reincidência”. Para concluir, o esportista retornou às quadras no mesmo ano em que deixou a prisão, sendo bem acolhido até mesmo por colegas.
Abordo este caso, pois ao citar questões específicas em relação aos crimes sexuais, muito se diz da incivilidade sul-americana ou africana, atribuindo aos países vitimados pelo colonialismo uma selvageria que supostamente os homens do norte global não possuiriam. Contudo, não é nenhuma seleção sul-americana ou africana que entra em campo neste momento com um estuprador condenado. Mas sim, uma seleção europeia.
Dentre as inúmeras discussões acerca de “ressocialização”, vale questionar-se qual é a mensagem que um país transmite ao associar um estuprador condenado ao esporte de alta performance, expondo atletas do sexo feminino ao escárnio da premissa de que seus corpos e sua segurança são irrisórios face à carreira de um homem.
Em um mundo no qual atletas do sexo masculino são reintegrados ao posto de jogador olímpico mesmo após uma condenação, enquanto atletas do sexo feminino estão sofrendo o risco de perder a guarda de suas crianças por competirem nas olimpíadas, qual mensagem nos está sendo transmitida? Seria isso, no final de tudo, a máxima inclusão? Seria esta a suprema “defesa das mulheres”?