Written by: Feminismo Negro Feminismo Raiz

De quem é essa b*ceta?

A sexualidade feminina e o grande tabu em torno da mulher que possui a si mesma

humanização e responsabilização

No interior de uma sociedade sexualmente estratificada, na qual a sexualidade feminina tem sido mobilizada enquanto produto lucrativo desde antes do paradigma capitalista, através de sua capacidade para a geração de novos indivíduos e, consequentemente, um maior acesso ao poder e controle social àqueles que detivessem o domínio sobre os corpos femininos, o desejo das mulheres tem pertencido a outrem. A história das relações entre mulheres e homens tem sido a história da captura do desejo e da colonização do corpo, que, afora desprovido da capacidade de autodefinição, foi definido, limitado e direcionado aos desígnios do outro. Pelo e para o outro.

Através do terrorismo sexual, aprendemos que desejar é perigoso. Ser, em sua integralidade, é perigoso. Pois quanto mais nos aproximamos de nós mesmas e nos afastamos da caricatura mortificada, asséptica e inodora do que deveria ser uma mulher à luz do patriarcado conservador, mais somos alocadas no extremo da fantasia promíscua, que dá permissão aos homens para que cometam suas violações contra mulheres.

Se somos racializadas, a fantasia promíscua já nos é talhada sobre a pele sem possibilidade de escape, como percebemos através dos dados do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para a Saúde (CIDACS), que afirmam que em 2020, o maior número de mães adolescentes está localizado nas regiões Norte-Nordeste (38,2%) e as etnias predominantes são indígenas, parda e preta (57,9%).

A buceta nunca nos pertenceu. Figurativa e concretamente, se nos recordamos da negação do acesso aos direitos sexais e reprodutivos no Brasil, dos altos índices de estpros e outras violaçõs sexuis, da doutrinação para a hetorossexualidade, que envolve aceitar tornar-se um buraco para a satisfação de outrem, à mercê de uma sexualidade violenta cujas demarcações de poder se dão através do quão subjugadas aceitamos e suportamos ser, jamais descobrir o prazer sexual, como apontam as pesquisas do Projeto Sexualidade do Hospital das Clínicas da USP, afirmando que “cerca de um terço das mulheres brasileiras nunca chegou ao clímax , seja com penetração ou com estimulação clitoriana”.

Na fase atual do capitalismo-patriarcal, intentam em nos convencer de que a buceta é nossa, para que a comercializemos no Onlyfans e tornemos cada vez mais rico homens como Leonid Radvinsky, CEO da plataforma que apenas em 2022 lucrou US$1,3 milhão (R$6,3 milhões) por dia.

Na era da hiper-pornificação da cultura, a pergunta feita por Jamie Overstreet, personagem do filme “She’s gotta Have it”, lançado em 1986 por Spike Lee, ressoa.

De quem é essa buceta?

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Tags:, , , , Last modified: 19 de setembro de 2023