Written by: Feminismo Negro

A mulata e a mãe preta: estereótipos e sexualização

Em nossa sociedade, a mulher negra personifica o ideal patriarcal de servidão sexual e reprodutiva. Afinal, se jovem, mulata. Se madura, mãe preta. E assim prossegue a opressão com base na raça e no sexo.

A opressão étnico-racial tornou-se, sobretudo, um sistema psicológico e cultural. Afinal, sem que percepções estereotipadas sejam desenvolvidas a respeito das etnias – e do sexo – que haverá de ser oprimido, dificilmente esta opressão receberá validação social subjetiva. Deste modo, a criação de estereótipos sexuais e raciais se mostra essencial à manutenção das hierarquias de opressão. No cenário dos países pós-coloniais, como o Brasil, houve inúmeras tentativas de subalternização cultural, psicológica e social de mulheres negras. 

Citando o afastamento sistemático da obtenção de bens materiais e da educação básica e superior, nos concentramos nas imagens de controle – estereótipos – que surgiram a partir da exploração sexual e laboral de mulheres negras no período escravocrata. Dentre os tais, há a figura da “mãe preta”, que remonta mulheres negras que foram violadas e tiveram seus filhos tomados de si, para que pudessem amamentar os filhos das famílias escravocratas e deles cuidar. 

Essas mulheres, para além de serem destituídas de sua humanidade, eram alocadas em um espaço inteiramente servil. Ou seja, a sua existência tinha como propósito nutrir, educar e cuidar de crianças brancas. Infelizmente, na atualidade ainda há diversos resquícios desta prática, sendo as mulheres pretas e mestiças as maiores responsáveis por serviços de limpeza, cuidados infantis mal remunerados e empregos subalternos.

Dentro deste cenário, a teórica Lélia Gonzalez traz consigo a figura da mulata, que seria o fruto da miscigenação oriunda do estupro de mulheres pretas e que performa uma imagem hiperssexualizada e objetificada. Porém, é interessante perceber que Gonzalez realiza uma conexão entre o estereótipo da mulata e a incidência de mulheres pretas e mestiças na prostituição. Em nossa sociedade, a mulher negra personifica o ideal patriarcal de servidão sexual e reprodutiva. Afinal, se jovem, mulata. Se madura, mãe preta. E assim prossegue a opressão com base na raça e no sexo.

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Tags:, , , , , , Last modified: 1 de agosto de 2021