Dentre os inúmeros mecanismos utilizados a fim de perpetuar o domínio patriarcal (supremacia masculina), há sobretudo a Religião monoteísta e demais desdobramentos religiosos constituídos a partir da ótica patriarcal. Nesse contexto, o sistema de crenças, superstições e acréscimos culturais sócio-históricos não se teria desenvolvido “naturalmente”, mas sim a partir da percepção masculina e colonizatória de que o âmbito espiritual traria um suposto aval divino à dominação perpetrada por instituições tais a Igreja, a Nobreza e na atualidade, o Estado.
Não obstante, em inúmeras culturas tais mecanismos foram utilizados a fim de manter a ordem social patriarcal, perpetuando a posição do homem enquanto líder da família, das instituições e da vida exterior, e a posição da mulher enquanto propriedade do homem, da família e cuidadora do lar. Por conta disso, a dominação masculina estendeu seus tentáculos por todas as áreas da vida pública e privada da classe feminina, assumindo formas na heterossexualidade compulsória, na maternidade compulsória, no matrimônio e na socialização feminina.
Após a mudança de paradigma matrilinear na Europa pós-cristã e dos avanços coloniais que se seguiram a partir do século XV, a perspectiva religiosa-patriarcal do continente fora transmitida violentamente aos povos originários e aos povos africanos, cultivando assim a versão europeia da supremacia masculina nas colônias e trazendo consigo os ideais religiosos que justificam a subordinação feminina e racializada. Não obstante, apesar da instauração de um “Estado laico”, as heranças da percepção religiosa-patriarcal permanecem e se perpetuam através da cultura e dos sistemas sociais.
Contudo, vivenciamos um momento histórico no qual perspectivas místicas vêm sendo resgatadas a fim de justificar sob uma ótica não-cristã os estereótipos e expectativas de gênero. Nesse contexto, aquilo que é socialmente imposto às mulheres acaba por ser catalogado como “energia feminina” e vice-versa, no intuito de trazer novamente uma aura “espiritual” àquilo que fora socialmente imposto. Faz-se necessário que nos mantenhamos críticas à romantização e espiritualização da opressão feminina em todas as vertentes religiosas e/ou místicas.
Eu nunca vi esse lance de “sagrado feminino” muito expressivo aqui no Brasil, até porque o que reina aqui são as religiões da matiz cristã, mas sim, temos que sair da visão geral da Esquerda que acha que só cristianismo e no máximo, islamismo é que são misóginos : tornam invisível e até justifica a misoginia de outras religiões. religião sempre foi algo criado pelo homem e para o homem, não importa o credo nem o número de deusas no panteon deste credo (o hinduísmo é aprova disso). e pra variara o patriarcado sempre se renova e “dá o seu jeito”: começamos a questionar o machismo cristão, aparece o new age supostamente equalitário:
https://arkell78.wordpress.com/2010/12/11/the-divine-feminine-and-new-age-sexism-2/
vc encontra muito este discurso new age sexista em workshops,sites etc de “datecoachers” ( não tem tradução,é como se fosse conselheiro amoroso) americanos e canadenses. Não sei em que pé está esta situação aqui no Brasil (pelo menos eu não vejo aqui onde moro,é só evangélico mesmo :p)