Written by: Feminismo Negro

Cuidar de si mesma é um ato político

Contudo, como feministas de raiz e ativistas antirracistas, carecemos de impulsionar a autoconsciência feminina. Porque nós realmente importamos, e cuidar de si ainda é político em uma sociedade que deseja-nos servas ou mortas.

No escopo de uma sociedade estimulada pela lógica neoliberalista, os conceitos de saúde e bem-estar são constantemente convertidos em nichos de mercado e possibilidades de mercantilização das necessidades básicas ou profundas dos seres humanos. Não obstante, quando citamos as classes subalternizadas que foram historicamente apartadas de um possível estado de bem estar social através das lógicas imperialistas e colonizadoras, nos referimos à apropriação total da saúde e possibilidades de bem estar daquelas e daqueles que têm sido compreendidos como “não inteiramente humanos” pelos sistemas sociais. 

Neste cenário, nossa vitalidade tende a ser imensamente explorada a fim de nutrir ideais econômicos através da constante mercantilização da vida. Se trabalhamos, produzimos. Se não estamos a trabalhar, estamos a consumir aquilo que gera trabalho no suposto “tempo de ócio”. E assim, jamais paramos. Ao citarmos esta perspectiva sob as análises de sexo e raça, a socialização feminina atrelada à afromisoginia aloca mulheres negras em um espaço de constante servidão e serviço ao bem estar de terceiros. Neste contexto, o cuidado para consigo é negligenciado em níveis profundos.

Afinal, a socialização feminina atrelada aos padrões impostos de gênero, ensina-nos a conceber o autocuidado enquanto uma prática puramente estética e feminilizadora. Nossos corpos, como eternas alegorias para outrem, jamais são concebidos como inteiramente humanos e dignos de plenos cuidados. Este fenômeno contribui para o desenvolvimento de inúmeras problemáticas internas e externas que culminam em fragilização emocional e psíquica. 

Autocentrar-se e priorizar-se sempre fora considerado uma imperdoável transgressão feminina, sendo socialmente punida em incontáveis níveis. Contudo, como feministas de raiz e ativistas antirracistas, carecemos de impulsionar a autoconsciência feminina. Porque nós realmente importamos, e cuidar de si ainda é político em uma sociedade que deseja-nos servas ou mortas. 

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Tags:, , Last modified: 1 de agosto de 2021