Ao abordar questões relacionadas ao sexo sendo utilizado como arma contra mulheres, diversas reflexões e relatos foram suscitados e chegaram ao conhecimento. Desejei compartilhar alguns deles com vocês, pois se faz necessário construir uma retórica robusta face aqueles que seguem afirmando que discussões em torno da sexualidade, da relação sexual heterossexual e da pornificação da sociedade são “moralismo”.
Primeiramente, se compreende que dentro de um contexto no qual há imensa repressão sexual, em especial em espaços religiosos e em países nos quais vigora uma teocracia, a sexualidade violenta segue sendo utilizada contra mulheres, mas com a demarcação entre “santas” e “putas”, “mulheres do lar” e “prostitutas”. A perspectiva conservadora sempre comportou o padrão de sexualidade heterossexual dissidente masculina, seja através das relações extraconjugais, abandono de filhos, estupro de mulheres em espaços religosos e etc. A sexualidade masculina heterossexual sempre esteve em foco, enquanto a repressão foi e permance a ser utilizada como uma estratégia de dominação sobre mulheres e demais grupos minoritários.
Não se pode esquecer que o controle sobre as capacidades reprodutivas e sobre o próprio discurso da sexualidade, possibilita aos homens não apenas um domínio sobre os corpos femininos, mas sobre toda a dimensão da sexualidade; sendo filmes, músicas, religiões, ditados socias e tantos objetos, construídos sobre a perspectiva masculina do sexo. A própria instauração da penetração enquanto definidor principal de uma “conjunção sexual”, se dá a partir da perspectiva masculina de que apenas o seu órgão genital “efetiva” a transformação de uma “virgem” em uma “mulher vivida”.
Nesse contexto, mulheres são socialmente conduzidas a apenas incorporarem aspectos da sexualidade masculina e aceitar os desígnios e desejos sexuais dos homens sem jamais questionar se compartilham dos mesmos desejos. Abordar de forma consciente a grande mácula que é deixada em mulheres durante o seu processo de socialização, suscitar um exercício autêntico e corajoso de olhar para a própria sexualidade e buscar a construção de uma sexualidade de fato feminina, focada em nossos desejos, nossos corpos e nosso controle sobre o sexo e o discurso, não é moralismo. Na verdade, é justamente a ideia mais disruptiva que existe — permitir-se quebrar o padrão que eles sempre desejaram CONSERVAR.