Written by: Feminismo Raiz

Feminilidade: A Eterna Roda de Hamster

Como somos aprisionadas pelos estereótipos estéticos de gênero

feminilidade e perigo

Quem estuda a teoria feminista há certo tempo, provavelmente já deparou-se com a crítica feminista de raiz à feminilidade estética. Esta, que se trata do conjunto de expectativas sociais acerca da aparência física que pessoas do sexo feminino carecem de manter a fim de que sejam identificadas como mulheres condizentes com os anseios patriarcais – deste modo, não representando perigo à estrutura e validando-a, até mesmo, através da doutrinação de outras meninas e mulheres.

No contexto colonial eurocêntrico, aquele que se mantém praxe estrutural e estruturante até os tempos atuais nos países que foram atingidas pelos males da invasão territorial e colonização cultural europeia, a feminilidade estética baseia-se, sobretudo, na imagem caucasiana e “frágil” que foi historicamente construída com inspiração na mulher branca. Uma aspiração inatingível em um país de maioria mestiça, com traços africanos, indígenas e árabes. A feminilidade estética nos assola até mesmo no íntimo de nossos corpos, afinal, o Brasil se trata de um dos países campeões na cirurgia de ninfoplastia, que consiste em uma “harmonização” destinada à vulva.

Para a mulher, não há “pressão estética”. O que factualmente existe, é a feminilidade estética atrelada à misoginia. Afinal, ao contrário do que pensam, as exigências estéticas baseiam-se sobretudo no controle dos corpos e da saúde feminina. Não há desassociação do modus patriarcal, racial e econômico que rege a sociedade. 

Como aprendemos em obras tais como O Mito da Beleza, mulheres famintas não se mobilizam em  torno de revoluções coletivas ou individuais. Mulheres mutil4das, dop4das, anestesi4das e esvazi4das de autoestima e bons mecanismos de autoproteção, não representam perigo ao modus patriarcal que norteia nossas vidas desde a aferição do sexo biológico.

Por conta disso, se faz necessário refletir a respeito da questão estética e dos seus desdobramentos na saúde mental e coletiva da casta feminina.

Como eu disse em uma outra rede social: “Ser mulher é muito caro, barato mesmo é ser fêmea. Por isso que somos transformadas em mulheres; mutiladas, dopadas, empapadas em cera quente, torturadas, lixadas… trabalhar para manter a feminilidade, a eterna roda de hamster”.

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Tags:, , , Last modified: 28 de agosto de 2023