Se há uma frase comum a quase todas as mulheres em conversas com homens acerca da s*xualid*de, é o recorrente: “você tem sorte, para mulheres é tão fácil conseguir s**xo”. No imaginário masculino, a hipersexualização da classe feminina se trata de um indicativo de maior “liberdade de escolha s*xu*l”. O fato de que aparentemente há uma grande oferta calorosa de s*xo para mulheres ronda a consciência masculina ao ponto de alguns homens afirmarem que, caso fossem mulheres, a experiência que mais almejariam vivenciar seria o suposto poder de escolha s*xu*l. Entretanto, o que inúmeros homens desconhecem, é a construção e a materialidade de uma ferramenta socioafetiva muito empregada pela classe masculina nos relacionamentos com mulheres: a escassez de afeto como método de manutenção da demanda.
Através de obras como o clássico “Amar para Sobreviver” de Dee L. R. Graham, aprendemos que mulheres são socializadas e socialmente coagidas a utilizarem o s*xo como instrumento de sobrevivência atrelado à própria feminilidade. Afinal, quanto maior é a sua capacidade de manter as “feras” (os homens) apaziguadas, maiores serão as suas possibilidades de manutenção da integridade física e emocional. Deste modo, aprendemos através da socialização de gênero a utilizar a s*xualid*de como uma ferramenta para conseguirmos dos homens aquilo que desejamos (afeto, proteção, evitamento de violência etc).
Entretanto, uma das razões pelas quais esse modus operandi funciona de modo a “aprisionar” ainda mais a classe feminina, se trata da técnica de racionamento do afeto, que consiste na apatia emocional, na negação do estabelecimento do vínculo e da frieza intencional a fim de desenvolver nas mulheres o tipo de amor maníaco (atormentado pelo medo da perda, disposto a tudo pelo estabelecimento e manutenção do vínculo). Na sanha de manter as mulheres sempre dispostas a tudo no intuito de sanar a ferida da rejeição e sentirem que possuem alguma proteção dentro de um cenário de constante ameaça social da violência, homens se aproveitam do anseio das mulheres pela afetividade que nos é historicamente negada, para continuarem a lucrar em serviços sexuais, serviços domésticos não remunerados, amparo psicológico e social e, além disso, o real poder da escolha: pois essa ferramenta socioafetiva faz com que homens, ainda que sejam medíocres, possam nalguma medida manter a demanda por seu afeto sempre alta, porque a oferta é intencionalmente baixa.
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…