Written by: Feminismo Raiz

“APENAS ME DEIXE TE PRENDER COMO UM REFÉM”

O que os relacionamentos de Billie Eilish e Megan Fox podem nos ensinar sobre a erotização da violência contra a mulher e o comportamento predatório dos homens?

Nos últimos dias, os relacionamentos das artistas Billie Eilish (20) e Megan Fox (36) se tornaram alvo de polêmicas nos veículos midiáticos por conta das fantasias de Halloween escolhidas por ambos os casais e questões controversas que antecedem o caso. Atualmente, a cantora Billie Eilish está em uma relação com o também cantor Jesse Rutherford de 31 anos. A confirmação do relacionamento conduziu o público à discussões acerca da cultura da p5d0f14 (o porquê de homens mais velhos tenderem a buscar por mulheres mais jovens ou adolescentes) e à comparações com a cantora Demi Lovato (30), que manteve um relacionamento com um homem de 29 anos quando tinha 17, tópico este já abordado por ela em uma canção.

Apesar das críticas, a cantora Billie Eilish mantém uma percepção positiva sobre a relação e no Halloween deste ano optou por fantasiar-se de bebê enquanto o seu namorado estava fantasiado de idoso, acompanhando-a em uma festa. A fantasia suscitou diversas críticas, levando alguns fãs a argumentarem que havia uma sátira da p5d0f1l14 na intenção de ambos. A cantora Billie Eilish já compartilhou publicamente sobre o seu antigo vício em p0rn0gr4fi4 e criticou a indústria. Por outro lado, o seu atual namorado já esteve sob algumas suspeitas do público por conta da canção “Single”, na qual narra um antigo relacionamento que teve. Na letra, há versos como: “Apenas uma garotinha, mas ela está crescendo tão rápido / E eu sou alérgico à espera / Ela é só uma garotinha / E eu adoro vê-la dançar / Mas isso está me deixando louco”.

A idade legal para realizar diversas ações nos Estados Unidos, como consumir bebidas alcoólicas e entrar em casas de festas, é 21 anos de idade. Uma fonte sobre a relação de ambos afirma que: “ […] eles se conectam em muitos níveis. Além disso, ela fará 21 anos em alguns meses, então não haverá tantas restrições em termos de onde eles podem sair, porque ela terá idade suficiente nesse ponto”.

No caso da atriz Megan Fox, se faz necessário compreender que a história da artista é marcada pela hipersexualização. Além de ter protagonizado o filme “Garota Infernal” (2009), Megan já afirmou em entrevistas ter sofrido imenso por conta da sexualização do seu papel e da intenção de outros diretores em deixá-la somente com personagens hipersexualizados. Ademais, a atriz também afirmou sofrer de um transtorno de dismorfia corporal. Atualmente, ela mantém um noivado polêmico com o cantor Machine Gun Kelly (32) e ambos decidiram fantasiar-se de Pamela Anderson e Tommy Lee para o Halloween deste ano, além de também fantasiarem-se de 5scr4v4 sexV4al e padre. Ambos receberam críticas por fazerem alusão ao relacionamento abusivo de Pamela e Tommy, assim como pelas insinuações de violência contra a mulher em algumas de suas poses.

Além disso, a artista já afirmou que ambos beberam o sangue um do outro e também que se sente “empoderada” pela relação s4d0masoquist4 que têm. Ademais, o seu anel de noivado pode machucá-la caso tente retirá-lo. Sobre isso, o seu noivo afirmou o porquê de ter escolhido pedi-la em noivado com o anel: “o amor é dor”.

As declarações de Machine Gun Kelly são emblemáticas para aquelas e aqueles que mantêm contato com a teoria feminista de raiz. Afinal, autoras como Dworkin, Graham, MacKinnon e Rich, nos exibem que o amor romântico heterossexual se trata de mais uma dentre as inúmeras ferramentas do sistema patriarcal para regular e direcionar mulheres à “submissão voluntária” em espaços de trabalho doméstico, afetivo, reprodutivo e sexual. Afinal, em uma sociedade na qual mulheres estão sob constante ameaça de violência masculina, o desenvolvimento da dependência emocional e anseios por um salvador masculino se tornam características difundidas entre a classe feminina. Mulheres buscam, por vezes, manter os seus parceiros satisfeitos para que os mesmos se mantenham em posição de “protetores” ao invés de migrarem para a de “agressores”, como sustenta Graham em “Amar para Sobreviver”.

Entretanto, tais mecanismos psicológicos põem mulheres em condições dúbias. Pois, a erotização da violência e a aceitação de práticas que lhes causem danos nalguma medida, fazem parte do jogo heterossexual. Não surpreende que muitas erotizem a sua submissão e que, até mesmo, esteja a tornar-se popular o hábito de sexualizar a própria violência contra a mulher, através de canções sobre “socos na costela” ou “enforcamentos”. Afinal, romantizar e erotizar a violência se trata de uma estratégia de sobrevivência empregada por mulheres em um contexto no qual, em seu horizonte, as únicas relações heterossexuais representadas na cultura envolvem alguma espécie de violência contra a mulher. Em uma sociedade na qual mulheres aprendem socialmente que não há escapatória da violência masculina, erotizá-la e convencer-se de que a aprecia ou “nasceu para senti-la” é uma maneira de conformismo cuja finalidade é ocasionar menos dor e tornar possível as relações entre mulheres e homens, ainda que haja características violentas.

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Tags:, , , , Last modified: 17 de janeiro de 2023