Dentre os inúmeros mecanismos utilizados nos processos de colonização (étnico-racial e sexual, vigora a construção simbólica de uma imagem deturpada da classe que haverá de ser oprimida. Como afirmava o teórico e psiquiatra francês Frantz Fanon, “o europeu possui uma ideia definida do negro”, salientando a identidade colonial edificada através de séculos da mais pura subjugação humana.
Não obstante, por intermédio de autoras como a historiadora Gerda Lerner, percebe-se que um fenômeno similar ocorrera à classe feminina. A imagem da mulher, aprisionada em sua socialização, transformada em um “ser humano por atribuição de valor”, impera no imaginário social até a atualidade. Neste processo hierarquizado e estratificador, a classe feminina perdera o seu direito ao exercício da plena humanidade. Imagens de controle produzidas a fim de pintar a mulher enquanto intelectualmente subdesenvolvida, frágil e débil, afetam a percepção social há séculos.
Igualmente, negros foram socialmente destituídos de sua humanidade plena, desde as “Grandes Navegações” e o racialismo do século XVII. Tendo sido reduzido à uma criatura sub-humana e ignorante, o indivíduo negro perdera o reconhecimento de sua componente intelectual, gerando incontáveis mazelas aos povos africanos e afro-diaspóricos. No entanto, há uma outra face da desumanização a qual pouco cita-se: a responsabilização.
Quando minorias raciais e a casta sexual feminina perderam o acesso pleno à sua humanidade, a responsabilização que dela emanava tornou-se fragmentada. Para uma melhor compreensão, trarei um exemplo: “mulheres brigam porque são passionais”, “homens negros agridem porque foram ensinados a agredir pelos brancos” e tantas outras alegações que, em um primeiro momento, aparentam servir à um ideal positivo, quando em verdade estão a utilizar a desumanização destas classes enquanto um agente de desresponsabilização por seus atos. Citar o passado histórico o qual molda as ações, ideações e atividades de integrantes de minorias, jamais deve tornar-se um escudo à percepção de seus equívocos pessoais. Pois, “humanizar” perpassa “responsabilizar”. Se desejamos ser percebidos enquanto humanos plenos, carecemos de aceitar que temos responsabilidades.
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…