Em uma sociedade patriarcal, o exercício de poder sobre mulheres perpassa inúmeros aspectos. Dentre eles, mecanismos disciplinares tais a própria feminilidade. Afinal, através das incumbências sociais atribuídas à classe feminina, (sabendo haver variações específicas no escopo da feminilidade que, através do crivo étnico-racial, são atribuídas às mulheres racializadas), nos é ensinado a performar e assimilar a submissão feminina ao ideal patriarcal.
A performance da feminilidade, para além de questões estéticas, comportamentais, sociais e psicológicas, permeia a vida afetiva feminina. Os padrões de relacionamentos aos quais somos socialmente submetidas, mesclam-se aos ideais de heterossexualidade, hierarquia sexual e exploração das capacidades sexuais, laborais, emocionais e reprodutivas femininas. No escopo deste modus, a subjugação feminina recebe ares de “erotismo”, transformando assim uma submissão socialmente imposta em uma suposta “libertação sexual”.
Não obstante, nos é ensinado a priorizar o bem-estar dos homens que pertencem ao círculo social afetivo. Pais, irmãos, primos, tios, namorados e maridos, monopolizam o tempo e esforço laboral feminino em prol de seu conforto. Quantos homens envolvem-se ativamente nos serviços domésticos? Quantos homens não projetam suas insatisfações emocionais e desejos sexuais de forma impositiva às mulheres com as quais se relacionam? O anseio de que sejamos continuamente passivas, gentis e permissivas, torna mulheres em indivíduos vulneráveis e passíveis de diversos tipos de violência.
Jamais deve-se esquecer que a opressão feminina perpassa as componentes psicológicas e emocionais. Os relacionamentos entre homens e mulheres estão repletos de micro-agressões as quais devemos reconhecer e prevenir.