TEXTO COM GATILHOS
Inicio este texto honrando a memória de todas as mártires da supremacia masculina. Honro cada mulher estuprada, cada menina violada, cada mulher espancada, cada menina que teve a sua inocência e psique feridas e fragmentadas por conta da violência sexual. Eu honro cada uma delas. As mulheres invisíveis do Patriarcado, aquelas cujos corpos permanecem trancados e empilhados nos porões, enquanto novas são seduzidas por promessas tentadoras, como no conto do Barba Azul.
Eu lhes confesso que, desde o meu amadurecimento, tenho evitado a controvérsia. Sempre preferi ser uma mulher cordial, hiper-educada, conciliadora e repleta de gentilezas. Por conta da socialização feminina? Não. Por conta de ser uma mulher negra e saber que quaisquer fagulhas de revolta ou ódio que viessem de mim, seriam respondidas com força desproporcional, humilhação e taxações de supostas “agressividades”. Principalmente nas redes sociais, onde a atenção de todos sobre polêmicas dura dois segundos, mas as obras ficam para sempre.
Eu lhes confesso que durante anos fui obcecada por ter uma aparência e postura irrepreensíveis. Sou bem-sucedida nisso. Mas também lhes confesso que o #8demarço é a única data na qual estou colérica. Não possuo palavras conciliadoras, não possuo belos discursos, não possuo a mulher cordial sempre-sorridente-perguntando-como-vocês-estão. Eu quero apenas gritar.
Eu desejo que a raiva feminina seja vista e acolhida. Porque vivemos às custas das nossas dissonâncias cognitivas, mas todas somos sobreviventes dos homens que nos estupraram, bateram, expuseram em sites pornográficos, que abusaram de nossas filhas, irmãs e amigas. Todas nós somos sobreviventes e fomos forçadas a reprimir ao máximo qualquer fagulha de revolta. Por isso figuras como Andrea Dworkin permanecem necessárias e acolhedoras para mulheres, em um mundo no qual somos coagidas a manter a cordialidade enquanto existem grupos de Telegram no qual homens discutem as melhores maneiras de abusar de crianças sem que as mães percebam, enquanto somos reduzidas constantemente à pedaços de carne sem valor. A máscara da cordialidade tem que permanecer, mesmo quando queremos apenas gritar.
Que neste #8demarço você finalmente consiga abraçar a sua revolta. Porque eu ainda estou colérica.
As músicas da Lana são controversas, Lolita parece ser uma referencia ao livro lolita de Vladimir Nabokov que narra do…