Written by: Feminismo Raiz Sem categoria

O que você consome de melhor nas redes sociais é Feminismo Real

Mas vocês ainda não estão preparada(o)s para esta conversa.

Nos últimos dias, a intelectual Valeska Zanello lançou uma petição a fim de que a misoginia, assim como demais infrações tais o racismo, a homofobia e a transfobia, passasse a ser tipificada e criminalizada judicialmente. A sua demanda nas mídias digitais gerou reações mistas, com mulheres feministas de raiz e outras demais, juntamente à alguns homens, endossando e compartilhando a petição. Porém, também acarretou comentários e manifestações de indivíduos os quais argumentavam que a misoginia não deveria ser tipificada por razões de maximização do punitivismo, ou até mesmo porque a demanda se tratava de um grande complô de feministas radicais no intuito de excluir mulheres trans das definições legais.

A comoção em torno da pauta e a resistência de outras mulheres no que tange a sua compreensão, nos leva a perceber de forma empírica os conceitos de teóricas como Graham, quando afirmava que mulheres põem-se contra si mesmas e seus próprios interesses, antagonizando com outras mulheres consideradas revoltosas a fim de não incitar o ódio de seus opressões e manter-se minimamente “seguras”. Aprendemos a trabalhar contra nós mesmas, a endossar discursos que não nos beneficiam e a assentir quando desejamos nos negar, porque tememos a represália política, o homicídio social e a perda de empregos. Então, é compreensível que tantas se eximam, barganhem discursos e finjam concordar com perspectivas das quais, em segredo, discordam.

Além disso, sou coagida a revelar um segredo que vem sendo guardado à sete chaves desde meados de 2017: os melhores conteúdos que vocês consomem nas redes sociais sobre feminismo são feminismo radical. Maternidade compulsória? Heterossexualidade compulsória? Socialização feminina e masculina? Anti-pornografia e Pornificação da Cultura? Prateleira do Amor e Dispositivo Romântico? Luta contra a manutenção da lei da Alienação Parental? Popularização das discussões sobre Dignidade Menstrual?

Tudo isso, essas temáticas que atualmente se contempla em páginas de feministas mainstream, ex-BBBs, feministas marxistas, psicólogas de mulheres, celebridades… são discursos e conceitos do feminismo radical que são “despejados” de sua base teórica a fim de vender e de auxiliar no discurso de alguns para fazê-los sentirem-se “vanguardistas” nas redes.

Entretanto, como uma pessoa que trabalha e vive há anos nesse meio, convivendo também nos bastidores, afirmo sem temores: muitos incentivam o ódio às feministas radicais, quando em verdade lucram e galgam sucesso utilizando a teoria feminista radical e somente omitindo a origem ideológica de suas fontes. Eles fomentam a caça às bruxas, pintam feministas radicais como criminosas e são os primeiros a lançá-las na fogueira, mas absolutamente tudo o que fazem, vendem e reproduzem é conteúdo feminista radical expropriado, mixado com a teoria pós-contemporânea e remoído. Muitas se apropriam e guardam para si aquilo que há anos vem sendo produzido corajosamente por mulheres feministas radicais e assim endossam discursos que pendem ao homicídio social.

Há uma razão óbvia pela qual pessoas que agem de tal maneira não desejem a criminalização da misoginia – e não, isso não é sobre punitivismo.

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Tags:, , Last modified: 24 de maio de 2024