Como estudante de Ciências Sociais Aplicadas, análise do discurso, semiótica e demais ramos, um dos temas que contemplamos com maior afinco é a ascensão e a queda de figuras ancoradas nas mitologias políticas, nos arquétipos de dominância e sobretudo, nas novas estratégias de manutenção do poder através do universo algorítmico e digital. Desde o surgimento da era Bolsonaro, inúmeros são os estudos que buscam compreender e traçar uma linha lógica do surgimento do pensamento neo-reacionário até o seu apogeu, nas eleições de 2018.
Dentre os inúmeros fatores que nos conduziram ao naufrágio das perspectivas de esquerda e a exibição de que, sim, vivemos em uma sociedade de maioria reacionária, eu marcaria o aumento da desigualdade social, empobrecimento, abandono social e desaparecimento da emergente classe média recém-saída da classe baixa.
Sejamos francos, a ideologia pouco importa quando se pode comer, beber, frequentar consultórios médicos, viajar e usufruir de lazer. Afinal, durante anos, esta mesma sociedade reacionária foi presidida por um governo de esquerda que ao final, muito bem avaliou. A manutenção do bem-estar social é um dos mais eficientes modos de contenção dos comportamentos reacionários. Pois, em um contexto no qual tais ideias existem e são maioria, a espiral do silêncio não é suficiente para contê-las e, quando a população não mais estiver sendo atendida como carece, elas emergirão cada vez mais fortes.
A atual direita brasileira, que para muitos de nós, indivíduos de esquerda que possuem algum letramento político, soa ignorante, dantesca e cafona, jamais esteve tão inteligente e certa de quais passos são essenciais para a manutenção do projeto de poder reacionário. Nikolas Ferreira é a mais nova aposta, e deveríamos estar muito mais preocupados em como cortar o mal pela raiz, do que em apenas decepar uma das cabeças dessa quimera. O discurso de Nikolas é, sobretudo, cristão. Quanto mais se persegue, “caça” ou escarnece de um “cristão”, mais próximo ele está de figuras como o próprio Jesus Cristo, o Messias.
Na sua entrevista acerca do projeto de cassação de seu cargo, Nikolas disse que caso o prendam, ele erguerá 10 mil Nikolas em seu nome. Ele está equivocado? Ele está blefando? Não está. Ele é um projeto político de longo prazo. Enquanto nós discutimos superfluidades, ele já se prepara para assumir o seu posto daqui há poucos anos porque já lhe demos o caminho das pedras.
Yasmin Morais
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…