Desde o início das civilizações patriarcais, quando a adoração à Deusa Mãe e às figuras femininas foi substituída pela centralização dos conceitos de humanidade em torno da figura masculina, as mulheres se tornaram meros commodities nas teias de negócios masculinas. Nesse sentido, a dominação da classe feminina através da submissão sexual, do controle reprodutivo e da objetificação – ao ponto de, em um passado recente, mulheres terem sido compreendidas como propriedades dos pais e maridos no Ocidente, nos exibe as dimensões consideráveis da desumanização da classe feminina nas sociedades patriarcais.
No período atual, em que vivemos uma aparente ascensão do pensamento progressista, muitos consideram que por conta de temáticas relacionadas ao neoliberalismo social e à pós-modernidade estarem a ser erguidas politicamente, isso significa que a experiência de vida das mulheres está a passar por grandes modificações positivas. Quando, na verdade, isso não procede. Os níveis de exploração sexual contra a classe feminina permanecem a crescer, assim como as desigualdades trabalhistas entre os sexos ainda exibem um longo horizonte de espera para as mulheres, e os direitos sexuais e reprodutivos permanecem sendo um anseio distante em inúmeros países.
Contudo, a falsa aparência de um progressismo artificial e entorpecente, teima em nos fazer crer que estão a ocorrer mudanças positivas, quando pessoas podem sair tranquilamente às ruas na Europa com camisas que incitam o assassinato de feministas e pessoas aplaudem a agressão de uma jovem negra em frente ao banheiro de uma escola. A misoginia permanece e cresce, desta vez, sob a alcunha de um progressismo pensado por e para homens e caucasianos.
Neste contexto, paira a questão: quanto vale uma mulher, quando tudo o que somos está atrelado ao quão dispostas estamos a ceder direitos, tempo de vida, força de trabalho e dignidade? Quando mesmo mortas, temos o nosso valor reduzido aos quilos que tivemos em vida? Quando mesmo a apanhar em frente a uma câmera, ainda somos culpadas pela violência que nos infligem? Quanto vale uma mulher, se não somos compreendidas como inteiramente humanas?
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…