Written by: Feminismo Raiz

O Irã e a República Evangélica do Brasil

A jovem Nika Shakarami e o que a experiência feminina nos governos totalitários diz sobre o nosso futuro no Brasil

No dia 20 de setembro, a jovem iraniana Nika Shakarami, de 16 anos, saiu às ruas da cidade de Teerã no intuito de protestar contra o regime totalitário iraniano e o assassinato da jovem curda-iraniana Mahsa Amini. Nika, com suas tendências artísticas, chegou a ser filmada em um dos protestos enquanto cantava, além de ter publicado em seus stories um vídeo no qual queimava o seu hijab (véu islâmico). Durante o protesto, a jovem foi perseguida pela polícia e desapareceu. Após alguns dias, a polícita comunicou à mãe de Nika que um corpo muito semelhante havia sido encontrado, confirmado assim o assassinato da garota sob a falsa suposição de um acidente. A menina de apenas 16 anos, também foi conduzida à prisão de Evin, na cidade de Teerã, onde passou alguns dos seus últimos momentos. Atualmente, a sua tia está sob custódia da polícia do país. 

Como se sabe, a história dos países do Oriente Médio é permeada por questões geopolíticas complexas, influenciadas por interesses coloniais e igualmente pelo interesse daqueles que formam a classe dominante de cada país. Entretanto, como é de praxe em contextos dominados por religiões monoteístas, a classe sexual dominante é masculina, abrindo possibilidades para interpretações ultra-conservadoras, misóginas e opressivas de quaisquer textos religiosos. Tal fenômeno ocorre largamente em países como o Brasil e outras nações do Sul Global, onde a religiosidade monoteísta impera e é manipulada ao bel-prazer daqueles que constituem a classe dominante.

Apesar do sensacionalismo e perspectiva orientalista de alguns no Norte Global, se faz palpável que a manutenção de um Estado Laico, com direito ao exercício da não-religiosidade ou da religiosidade diversa, se exibe menos pernicioso às mulheres — e o mesmo se percebe em países como o Irã e o Brasil. Entretanto, assim como aquilo que observamos em alguns países do Oriente Médio, aos poucos uma elite masculina e religiosa se apropria do discurso, pautando as suas demandas no pânico moral, no controle do corpo e da autonomia feminina e na aniquilação de minorias ou posicionamentos contrários. Se faz necessário compreender que a religião monoteísta de base masculina vem sendo utilizada ao longo dos séculos como uma ferramenta de poder empregada nos momentos de radicalização ou ebulição feminina em prol dos direitos das mulheres.

Sociedades nas quais os corpos femininos são controlados publicamente, sejam no ocidente ou no oriente, beneficiam a supremacia masculina e se baseiam também, na promoção do próprio capitalismo. Afinal, a lógica de mulheres enquanto reprodutoras no escopo dos cenários religiosos ou conservadores, muito comunica a respeito de um dos maiores objetivos da dominação masculina: o poder sobre o útero, o domínio sobre quem nasce e quem morre e a perpetuação do poder patriarcal. Não podemos fechar os olhos para os avanços fundamentalistas que minam os direitos das mulheres no Brasil, pois não estamos tão distantes quanto pensamos do controle masculino-religioso.

Por isso, que ergamos as nossas vozes no brado de todas as mulheres: “zan, zendegi, azadi” (“mulher, vida, liberdade”). Eu honro a existência e a luta de cada uma das mulheres mártires que morreram todas sob a mesma bandeira — o Patriarcado.

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Tags:, , Last modified: 19 de outubro de 2022