Há algumas semanas, desde o assasinato da jovem Mahsa Amini pela polícia da moralidade no Irã, país do Oriente Médio cuja perspectiva institucional é alicerçada em uma versão fundamentalista da religião monoteísta local, inúmeras mulheres — e até mesmo homens — passaram a manifestar-se não apenas no país como em outros locais do globo contra a opressão vivenciada pelas mulheres iranianas. Não obstante, se sabe que o Orientalismo e a percepção ocidental de que “as mazelas sociais residem apenas no Oriente”, se manifestam através de veículos jornalísticos ou da veiculação de fake news a respeito da vida em países de origem árabe.
Porém, se faz necessário estarmos atentas ao movimento contrário: indivíduos que, sob a cobertura das acusações de islamofobia, julgam toda e qualquer manifestação de mulheres árabes como tendenciosa ou veiculada mundialmente apenas por supostas conspirações que existiriam no intuito de perseguir indivíduos árabes ou mulçumanos. Se faz necessário compreender que a experiência de mulheres árabes, além de definitivamente complexa e atravessada por questões de políticas externas e internas, interesses coloniais de demais países e das próprias instituições masculinas em seu Estado, está para além da religião. Deste modo, não cabe às mulheres muçulmanas brasileiras ou não-árabes legislar nas redes sociais sobre como mulheres vivendo sob tais modos de opressão devem se manifestar.
O discurso daqueles que pertencem às religiões fundamenta-se em defendê-las, como observamos na retórica feminina cristã quanto ao feminismo e entre outros. Quando se tornou agradável rechaçar e apontar as inconsistências de uma suposta união entre o cristianismo e o feminismo, mas jamais considerar o papel de outras instituições religiosas de cunho masculino na experiência de vida das mulheres? Em tempos de mídias sociais e altas demandas por representatividade de mercado, muitas pessoas lucram com a desgraça daqueles que sequer recebem visibilidade para erguer suas próprias vozes de modo a serem ouvidos com atenção. No boom da dominação do fundamentalismo religioso alinhado à política no Afeganistão, muitas brasileiras muçulmanas cresceram nas redes sociais. Quantas mulheres árabes, refugiadas e vivendo no Brasil ou na América do Sul em geral, cresceram?
Carecemos de estar atentas e críticas, porque no campo das políticas e das religiões, cada peão joga por si.
Estejamos ao lado das mulheres no Ocidente e no Oriente, porque não há liberdade para nós em nenhuma parte. E assim bradamos há séculos.
Nós somos Mahsa Amini.
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…