Written by: Feminismo Raiz

O movimento #tireoespartilho e as mulheres negras

O sistema retroalimenta-se do racismo e afromisoginia que foram implantados em nossa consciência, a fim de que nos tornemos um nicho igualmente lucrativo, enquanto outras mulheres racializadas permanecem exploradas pela própria indústria.

Mulheres negras sempre vivenciaram questões divergentes quanto à feminilidade no contexto pós-colonial e imperialista presentes na diáspora. Afinal, o arcabouço da feminilidade europeia jamais servira enquanto um conjunto de estereótipos, padrões comportamentais e psicológicos e rituais que tivessem por finalidade alcançar a experiência de vida feminina e racializada. Contrariamente, segundo a autora Angela Davis em sua célebre obra “Mulheres, Raça e Classe”, a classe feminina afrodescendente no período escravocrata sequer fora compreendida enquanto componentes detentores da mulheridade. Sendo, tanto por questões étnico-raciais como sexuais, alocadas em um espaço de não-mulheridade.

Tornando a mulher negra em uma criatura destituída do jugo feminino destinado às mulheres brancas, fomos rapidamente alocadas em condições antagônicas, nos tornando para além da “não-mulher”, a “fêmea impura”, “a prostituta”, “a brutalizada” e entre outras demarcações simbólicas e sociais a partir da raça e do sexo. Pois, enquanto mulheres brancas exerciam a feminilidade performática (estética) enquanto objeto direto do homem branco, à mulher negra era relegada a face mais brutalizada da experiência feminina em um cenário patriarcal. Não obstante, na atualidade, mulheres negras permanecem as maiores vítimas da brutalidade sexual e física no Brasil. 

Entretanto, a incorporação da feminilidade europeia e patriarcal, jamais tratou-se de um trajeto apropriado à emancipação de mulheres negras. Pois, atrelado ao Capitalismo, a hierarquia racial e o patriarcado comercializam a ideação de que, ao performarmos a feminilidade estética ou encontrarmos adereços da Indústria da Beleza direcionados à nós, seremos “incluídas”. Quando, em verdade, o sistema retroalimenta-se do racismo e afromisoginia que foram implantados em nossa consciência, a fim de que nos tornemos um nicho igualmente lucrativo, enquanto outras mulheres racializadas permanecem exploradas pela própria indústria.

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Tags:, , , , , , Last modified: 1 de agosto de 2021