Written by: Feminismo Raiz

O masculinismo juvenil

Porque massacres em escolas nada tem a ver com bullying ou com “sofrimento masculino”

No último dia 23/10 (segunda-feira), um aluno da Escola Estadual Sapopemba (SP) abriu fogo nas dependências do estabelecimento, deixando duas estudantes do sexo feminino feridas e ocasionando a morte de uma terceira. O caso foi enquadrado tal como uma reação do jovem ao fato de se sentir excluído; em uma matéria da CNN Brasil, há também relatos de que o aluno havia citado que realizaria um massacre na escola.

Este caso faz parte da recente tendência de massacres constantes em escolas do Brasil, país que perde somente para os Estados Unidos em estatísticas de ocorrência, de acordo com Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da USP. Segundo alguns, esses casos tendem a ocorrer como uma reação de estudantes ao bullying ou ao comportamento de rejeição dos demais colegas, tal qual as justificativas utilizadas acerca do massacre de Realengo, ocorrido há 12 anos no Rio de Janeiro.

Entretanto, apesar de uma abordagem direcionada aos cuidados de saúde mental dos adolescentes, conscientização acerca das redes sociais e do bullying, os massacres continuam a ocorrer e a se intensificar, pois a questão mais crucial tem sido sub-analisada: a masculinidade bélica e o masculinismo. A incidência do perfil de estudantes que realizam os atos criminosos e de suas vítimas, deixa explícito um viés de sexo biológico e raça, no qual garotas são visadas e uma parte considerável dos agressores são do sexo masculino, brancos ou mestiços claros.

Não coincidentemente, o aumento de tais crimes flerta com o aprofundamento dos guettos masculinistas (INCELs, redpills, MGTOWs e etc) nos países ocidentais e na América do Sul, com especial foco no Brasil. 

No contexto brasileiro, no qual registraram-se 74.930 estupros ao longo de 2022, com um total de 205 violações por dia, o solo é fértil para o crescimento de ramos masculinistas auto-organizados. Afinal, o Brasil, enquanto um dos países com piores índices de segurança para meninas e mulheres, possui em sua gênese o modus operandi ultra-sexista que flerta, sobretudo, com a perspectiva de que mulheres são seres naturalmente inferiores, agora, munidos de direitos outrora negados.

Na retórica masculinista, a maior contravenção cometida pela casta feminina, tem sido a sua proximidade atual com as perspectivas feministas, a negação da maternidade e o criticismo ao casamento. A latente percepção de que a sociedade, ainda que superficialmente, tem atualizado-se, é suficiente para lastrear a revanche masculina e o anseio pelo aprofundamento da lógica ultra-sexista. 

Ao contrário do que tentam nos convencer, o aumento dos casos de feminicídio atrelado aos massacres em escolas, serve sobretudo para nos transmitir uma mensagem: precisamos retroceder em direitos e nos recordar de qual é o nosso “lugar” na estrutura patriarcal. O assassinato de mulheres, assim como as violações sexuais, servem enquanto estratégia de terrorismo utilizadas para adestramento e controle.

Homens não matam mulheres por se sentirem “ rejeitados”, mas sim porque sabem que o modus disciplinador utilizado por gerações para a contenção da casta sexual feminina, tem sido a violência. Homens matam mulheres pela mesma razão que regimes autoritários penduravam cabeças nos muros das cidades: deixar um aviso.

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Tags:, , , Last modified: 14 de janeiro de 2024