Written by: Feminismo Raiz

Nota: Mudanças no Projeto Vulva Negra

Compreenda o que está mudando por aqui

Desde a sua fundação no ano de 2018, o objetivo para o qual o projeto Vulva Negra foi designado, se trata da construção de uma abordagem social, política e teórica fundamentada no feminismo de raiz, no feminismo negro e nos estudos étnico-raciais. Aos dezoito anos, idade na qual elaborei e pari este projeto, já estava no interior da movimentação social feminsita de raiz há certo tempo e sentia-me sub-representada. Afinal, não havia mulheres negras construindo em uma perspectiva de visibilidade ampla os espaços, as pautas e os cenários nos quais me encontrava. Deste modo, aferindo o potencial transformador e revolucionário da teoria feminista de raiz e seus possíveis impactos positivos nos estudos acerca da realidade material que afeta mulheres pretas e mestiças no Brasil, decidi unir aspectos-chaves de ambas as teorias e fundar este, que seria o portal, o início, de uma suposta racialização do movimento feminista de raiz no Brasil. E, com todo o respeito e pesar que poderia habitar o meu coração: Eu estava errada.

Após a fundação do projeto, inúmeras mulheres racializadas conheceram o feminismo de raiz, fundaram seus próprios projetos, pariram a coragem necessária para erguer suas vozes contra a opressão sexual atrelada às opressões raciais e econômicas. Tivemos iniciativas trazidas ao Brasil por mulheres racializadas, como o #TireOEspartilho e tantos outros momentos nos quais mulheres pretas, mestiças e indígenas foram um rebuliço, um estandarte de mudança e a chama revolucionária e coletiva deste movimento. Contudo, quando considerei que isso seria suficiente para uma racialização e uma abordagem ampla acerca das questões que atingem mulheres racializadas, novamente, com todo o pesar e respeito: Eu estava errada.

Pois ocorreu que o projeto Vulva Negra e as feministas racializadas que deram o seu suor, o seu sangue, a sua saúde mental, o seu tempo valioso… se tornassem objeto de tokenização, como negras exibidas em um espetáculo social, a fim de comprovar aos demais que não há racismo no movimento, quando, em verdade, fomos há muito tratadas como um “recorte”. Quando o mundo das “pautas centrais” sempre foi impenetrável. O liberalismo adentra como uma droga injetável, e de repente questões se tornam em digladiações de casas rivais, tal estivéssemos nalguma versão pérfida de Game of Thrones. O poder é tão narcótico quanto os discursos. E, sinto em informar, mas ainda há racismo, misoginia internalizada, sede de poder e ganância, sub-representação de mulheres racializadas, e tokenização.

Eu, Yasmin Morais, fundadora do projeto Vulva Negra, em um momento humano, após imensa reflexão, lágrimas, decepções cortantes e falta de fé, afirmo: Eu estava errada. E eu sinto muito. Eu peço perdão às minhas irmãs negras por ter desviado ligeiramente do caminho e ter me esquecido que nós estamos aqui por nós mesmas.

Estou aqui para construir um novo recomeço. Porque eu ainda acredito no poder revolucionário da teoria de raiz, assim como ainda percebo a sua utilidade na análise da experiência de mulheres negras. Apenas afirmo categoricamente que não desejo mais participar. Que não represento casa alguma. Eu me autorepresento. E que esse projeto, aberto a todas e todos, passará a abordar, em específico, as questões das mulheres racializadas.

Eu sou feminista radical negra.

Eu faço feminismo radical negro.

E permaneçam aqui, se desejam conhecê-lo.

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Tags:, , Last modified: 30 de março de 2022