Desde os primórdios do sistema patriarcal, há mais de dois mil anos, o corpo feminino tem sido utilizado enquanto moeda de troca e propriedade masculina. Afinal, percebendo-se o potencial lucrativo da capacidade sexual e reprodutiva das fêmeas humanas, a classe masculina, sob a demarcação de instituições, como: a família, a religião e a tradição, passou a usufruir integralmente dos corpos femininos. Dentre os modos arcaicos de exploração, destacam-se os casamentos arranjados, a prostituição, os haréns e a subordinação das mulheres aos seus familiares.
Mesmo anterior à instauração do modelo capitalista, a mulher era percebida em diversas culturas enquanto subordinada ao homem, sendo um ser humano de segunda classe cujo maior objetivo seria procriar e atender às demandas masculinas. Segundo estudo presente no livro “A Criação do Patriarcado”, a exploração estrutural de mulheres precede todas as formas de escravidão. Deste modo, os homens detinham / detêm direitos específicos sobre as mulheres. Uma mulher desamparada por seus familiares, não teria imensas alternativas para além da prostituição.
Deste modo, a exploração sexual e reprodutiva sempre fora um “último recurso” exploratório imposto pelos homens às mulheres, constituindo na cultura a concepção de que “mulheres utilizam o corpo / a sedução para conseguir coisas”, o patriarcado válida socialmente a exploração de mulheres sob o pretexto do “livre arbítrio” e “desejo biológico pela submissão sexual”. Quando, na verdade, o próprio sistema concebe e considera nossos corpos enquanto moedas de troca sexualizadas. E, após a fundação e institucionalização do sistema capitalista, a exploração de mulheres recebeu novos contornos.
Após a evolução do sistema capitalista, inúmeras indústrias e nichos os quais beneficiam-se da exploração feminina tornaram-se altamente lucrativos e foram / são utilizados a fim de oprimir a classe feminina e afetar de modo ainda mais brutal mulheres racializadas, pobres e imigrantes do sul global. A indústria pornográfica, a prostituição, o comércio de barrigas de aluguel, o trabalho doméstico mal-remunerado, os serviços de limpeza e afins, tratam-se de empreendimentos bilionários os quais tem por base a manutenção da exploração feminina.
Em uma sociedade altamente capitalista na qual o estado de bem-estar social é negado ao grosso da população feminina, altos índices de desemprego, instabilidade econômica e desvalorização da educação, a exploração sexual exibe-se, novamente, como “um último recurso” à obtenção de renda. Afinal, através do empobrecimento feminino e racializado em massa, mulheres tornam-se suscetíveis à formas de exploração sexual cada vez mais tecnológicas e lucrativas às empresas e aos nichos. Aplicativos de vídeo chamada que afirmam pagar em dólar, camgirls, “vendas de pack”, onlyfans e o famigerado “relacionamento sugar”, são formas de exploração sexual altamente difundidas entre mulheres jovens em uma sociedade que não oferece, intencionalmente, um horizonte de vida digna.
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…