Mulheres se auto-organizam em movimentos coletivos ou de cunho social há séculos. Desde a fundação das comunidades patriarcais e das tentativas masculinas de destruição da experiência feminina autônoma, mulheres buscaram construir movimentos contra-hegemônicos através de perspectivas ginocentradas. Ao longo da história, unir-se e formar comunidades tem sido uma estratégia escolhida pela casta feminina, e sendo uma das mais promissoras, a casta masculina sempre buscou realizar cisões entre as mulheres através da classificação em grupos segregados.
A criação da hostilidade horizontal é essencial para que a divisão da casta permaneça, se faz necessário construir noções arraigadas de diferença no escopo da casta, para que seus integrantes sintam-se cada vez mais atomizados e menos passíveis de se unirem em prol de um objetivo em comum. Além disso, as questões étnico-raciais são igualmente utilizadas a fim de manter mulheres hierarquizadas, a cessão de poder realizada pela casta masculina às mulheres brancas, é uma estratégia fina no cenário colonial no intuito de fazê-las exercer micro-opressões sobre mulheres negras e se manter fiéis aos desígnios do patriarcado e da hierarquia racial.
Dentro desses termos, é perceptível que há uma questão relacionada à opressão racial no interior dos movimentos sociais organizados por mulheres cuja promoção se deu a partir de referenciais europeus e norte-americanos. Para além das questões étnico-raciais, há misoginia internalizada e o ímpeto pela competição feminina, como também a imensa necessidade em se perceber como “melhores” do que outras mulheres.
Sem que nos demos conta, muitas de nós acabam imergindo em uma lógica de rivalidade que corrobora apenas para o enfraquecimento de nosso movimento social. Nesse quesito, pecar em pontos tais como a comunicação estratégica, a empatia social e a auto-organização política, nos faz contribuir para o jogo do opressor, magoando outras mulheres e reforçando a dissonância cognitiva de que homens “mantêm relações melhores”.
REFERÊNCIAS :
“A Criação do Patriarcado”, Gerda Lerner.