Written by: Feminismo Raiz

ELE DISSE ela disse: PORQUE NÃO HÁ DIÁLOGOS COM EXTREMISTAS

Porque debater com extremistas sempre será como morder a própria cauda.

Quando nos deparamos com perspectivas no escopo da ideologia neoliberal, discursos os quais glorificam a liberdade de expressão irrefreada ou o “direito supremo à palavra”, nos são apresentados como alternativas necessárias à sustentação de uma democracia saudável. Entretanto, quando refletimos e nos debruçamos à fundo, lidamos com o paradoxo de que nem todos os grupos usufruem do suposto “direito à palavra” de forma equitativa ou propositiva, mas sim no intuito de negar o mesmo direito à outros grupos, como também propagar ideologias que incentivam a perseguição, morte e violações contra os demais.

Face a essa questão, o estudioso Karl Popper lançou a obra “Os Paradoxos da Soberania” em 1945, abordando questões como os desafios democráticos e a suposta irrefutabilidade da “liberdade de expressão”. Em um mundo no qual todos tenham livre discurso e direito soberano a sermos considerados em todas as questões sem antítese, assistiríamos ao crescimento do extremismo e pouco a pouco sucumbiríamos como sociedade.

E por que ocorreria dessa forma? Por que os discursos extremistas possuem um apelo superior aos discursos pacificadores? Em partes, porque os discursos extremos mobilizam afetos e imaginários de forma muito específica, unindo indivíduos em torno de incômodos, desejos e perspectivas comuns. Lhes dando, sobretudo, a ilusão de “grupo” e de um porvir melhor que viria a ser ofertado pela perspectiva extremista. Afinal, os extremos não reconhecem o mal em si mesmos, mas sim, trabalham com a ideologia do Inimigo. Nessa perspectiva, o inferno, como dizia Sartre, são os outros.

Recentemente, tem estado “na moda” promover debates e disputas discursivas entre grupos distintos. Ateus e cristãos. Atrizes pornô e pessoas anti-pornografia e etc. Vídeos deste gênero possuem imensa visibilidade, porque todos desejam ver o embate, o constrangimento e a comprovação de qual discurso vence, é superior e merece estar em voga – sem contar os desejos individuais de autopromoção. Entretanto, dentro dessa ótica, o discurso e o diálogo não cabem quando a figura oposta é extremista.

Afinal, o extremismo possui um comportamento social similar ao câncer e às criaturas parasitárias. O extremista é convicto, não é alguém ou um grupo disposto a rever conceitos e mudar perspectivas, mas sim, espalhá-las o máximo possível para angariar mais adeptos. O extremista trabalha com “apitos de cachorro” e gatilhos mentais que atingem diretamente os indivíduos da audiência mais suscetíveis ao seu discurso. O extremista sabe que o seu tempo é escasso em espaços além de sua própria tribo, então cada segundo conta, e age como um soldado suicida.

O extremista se aproveita de momentos como esse, para exibir que “não é tão mau assim” e que possui “um papel social” para as novas gerações. O extremista, em geral, sabe como monopolizar e se tornar o centro das atenções. Qualquer debate com um extremista é fadado ao fracasso e ao impulsionamento da imagem dele, pois é impossível lutar contra as fortes emoções e o discurso extremo dessa forma. Dar-lhes ouvidos em espaços públicos e de “debate”, é validar a sua perspectiva e, ainda que inconscientemente, transmitir a ideia de que seus pensamentos são válidos e cabíveis em uma democracia.

Afinal, se começamos a dar espaço a assassinos, estuprad0res, integrantes da Kl4n e naz1stas, interessados no que eles têm a nos dizer, o que significa? O que isso comunica ao público? Seriam os misóginos apenas “mais um grupo que merece ser ouvido” no quinto país que mais mata mulheres? “Vale tudo” por likes e visibilidade? O que comunicamos quando nada está no limite do inaceitável e tudo é passível de “aceitação social”? O que comunicamos quando sentamos à mesma mesa que pessoas que nos consideram carne de segunda classe e damos risadas, comemos e nos regozijamos?

Como já diz o ditado, “Se há dez pessoas numa mesa, um nazista chega e se senta, e nenhuma pessoa se levanta, então existem onze nazistas numa mesa”.

Saia da maldita mesa.

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Tags:, , , , Last modified: 1 de maio de 2023