Written by: Feminismo Raiz

Por que espaços femininos ainda são necessários?

E como isso afeta a vida das mulheres

Na era da pós-verdade e da imaterialidade excessiva, o pânico moral atrelado às políticas de desmaterialização das causas tem crescido amplamente. Se por um lado, possuímos grupos ultraconservadores construindo narrativas falaciosas, por outro, temos grupos progressistas ignorando fatores históricos de vulnerabilidade da casta sexual feminina. Mulheres, cujas vozes são ouvidas somente quando fazem o eco dos anseios masculinos, têm sido alocadas enquanto delirantes ou excludentes ao questionar o desejo voraz pela violação das pequenas barreiras que conseguimos erguer historicamente na tentativa de proteção contra a violência masculina.

Numa perspectiva histórica, desde a vitória das organizações humanas patriarcais, os corpos das mulheres passaram ao domínio privado ou público sob a tutela de um ou mais homens. Os corpos femininos eram desprovidos de agência, pois carregavam consigo bens valiosos, tais como os trabalhos de cuidado, o sexo recreativo e a capacidade reprodutiva. Quem detivesse o controle sobre as mulheres, detinha o poder. 

Apesar das modificações nos cenários sociais, as engrenagens do sistema patriarcal somente atualizaram-se. Os corpos das mulheres permanecem sob tutela masculina – dos pais, do Estado, dos maridos, dos pornógrafos e daqueles que legislam sobre nossa segurança mínima. Os espaços separados por sexo, ao contrário do que somos levados a conceber, não foram cedidos às mulheres, mas sim conquistados com imenso ativismo social. Afinal, a existência de espaços nos quais mulheres poderiam não somente atender aos seus chamados fisiológicos como também banhar-se e arrumar-se, foram um divisor de águas na retomada histórica nos espaços públicos.

A rua, assim como o poder, tem sido masculina desde os primórdios da organização social tal como a conhecemos. E apesar das estatísticas apontarem o lar como um dos espaços mais perigosos para a casta feminina, não se pode esquecer que as experiências de importunação sexual, exibicionismo, vulnerabilidade e tentativas de estupros também ocorrem em espaços públicos. Em especial, naqueles onde há facilidade. 

Neste momento, temos sido socialmente instruídas a ignorar o temor primordial, aquele que nos torna mulheres à força: o terrorismo sexual utilizado pela casta masculina como mecanismo de controle histórico. Hoje, muitos dizem não haver razão para que mulheres desejem manter espaços exclusivos, no país onde um caso de estupro é registrado a cada dois minutos. Quando percebermos, talvez seja tarde demais.

(Visited 108 times, 1 visits today)
Tags:, , , Last modified: 9 de outubro de 2023