Em uma sociedade patriarcal, racista e classista, o sistema de atribuições baseado nas opressões que vivenciamos opera de modo interseccional. Nesta encruzilhada social, mulheres que possuem sobre si demais marcadores tais a raça e a classe, encontram-se em espaços triplamente subalternizados. Afinal, juntamente ao Capitalismo e a Hierarquia Racial, o Patriarcado edifica pontes as quais conduzem-nos à opressões cruzadas, como: a Prostituição, o Trabalho Doméstico, a Pobreza Menstrual, a Pornografia e afins.
Na história da Humanidade, a classe feminina fora alocada maioritariamente enquanto responsável pelos serviços domésticos. Cabia à mulher realizar a manutenção dos cuidados da família e do lar, abdicando de sua existência autônoma. Não obstante, as sequelas desta socialização milenar permanecem e afetam a saúde física e mental da classe feminina. Afinal, “as mulheres brasileiras ainda trabalham quase o dobro de horas que os homens nos afazeres domésticos e cuidados de parentes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enquanto as mulheres dedicam, em média, 21,3 horas semanais a estes afazeres, os homens só empenharam 10,9 horas”, segundo a VEJA.
Somando-se ao fato de que mulheres constituem a parcela sexual mais empobrecida da Humanidade, a tripla jornada vivenciada pela classe feminina torna-se basicamente destino final de todas as mulheres socializadas nesta sociedade. Pois, quando questiona-se as problemáticas de instituições tais o Casamento e a Família, diversas mulheres tendem a julgar feministas radicais como “destruidoras de lares”, ao invés de ater-se à reflexão sobre como este sistema monopoliza o tempo de vida feminino e o direciona em prol do benefício de segundos e terceiros.
Afinal, enquanto mulheres tendem a ser sobrecarregadas por serviços domésticos, cuidados com a beleza e a performance da feminilidade estética, homens estão a aproveitar-se deste trabalho a fim de crescer profissional e socialmente. A emancipação feminina perpassa encarar uma realidade latente e estarrecedora: não existe “trabalho por amor”. Enquanto trabalhamos por eles, nossa saúde deteriora-se e o sucesso de nossos algozes somente se torna maior.