Se há um sentimento que em incontáveis aspectos define a experiência de vida feminina, este certamente é o medo. Afinal, desde os primórdios da organização humana sob a lógica social patriarcal, os mecanismos de coerção física, social, psicológica e sobretudo sexual têm sido aplicados à classe feminina para que consciente e inconscientemente internalize os postos para os quais foi destinada. Nesse cenário, mulheres são socializadas sob a ótica do medo, pois através deste, se exerce o domínio sobre suas capacidades sexuais, reprodutivas e trabalhistas. Contudo, em um cenário no qual mulheres carecem de desenvolver laços profundos com os indivíduos beneficiados pelo sistema patriarcal e que sobre elas infligem poder, se faz necessário ceder às distorções cognitivas para que se dê continuidade a tais relações sem que jamais haja o profundo questionamento de suas bases perniciosas.
Nessas condições, mulheres, que já constituem a maior parcela da população a possuir transtornos de ordem psicológica relacionados ao medo*, carecem de edificar internamente duas figuras fixas e controversas: “o homem bom” e o “homem mau”. Tal distorção cognitiva possui a incubência de manter a mulher em estado de sobrevivência e alienação quanto ao fato de que, estatisticamente, os homens mais propensos a destruí-la, são aqueles com os quais convive e que por ela são alocados na instância “confiável”.
A sociedade patriarcal alimenta o mito do “agressor à espreita”, a fim de que mulheres se mantenham desatentas ao fato de que, em verdade, mantêm relações íntimas com os seus próprios agressores e com aqueles que mais usufruem indevidamente de suas capacidades reprodutivas, laborais e sexuais. Deste modo, subentende-se que as relações familiares e afetivas de mulheres com homens se trata de um espaço no qual tais mulheres encontram segurança ou apoio contra os “homens maus”, quando através de análises da realidade material, se percebe que unir-se à um homem ou tê-lo em espaços íntimos, por vezes tão somente auxilia na perpetuação da exploração.
A classe feminina é socializada para barganhar suas capacidades em troca de proteção com os seus agressores mais prováveis, e estas condições são fomentadas há séculos e assim permanecem às novas gerações de mulheres. Afinal, se o lar se trata do espaço mais perigoso para uma mulher, possuir vínculos íntimos com homens realmente nos torna mais seguras?
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…