Recentemente, o cenário digital foi tomado por perspectivas antagônicas acerca de uma artista brasileira que performa apresentações extremamente sexuais em seus shows e clipes musicais. Determinada parte da audiência, tende a argumentar que suas performances escancaram a necessidade social da hiperssexualização feminina nos processos de ascensão e sucesso das mulheres na indústria pop, enquanto outros, argumentam que as críticas e as análises apresentadas são estritamente machistas e se fundamentam nas percepções contrárias à liberdade sexual feminina e, ademais, em uma suposta “síndrome do vira-latas”, já que artistas norte-americanas sempre apelaram à hiperssexualização, e segundo tais pessoas, jamais foram “julgadas” por brasileiros.
Contudo, os elementos mais significativos nesse discurso, que tendem a ser esquecidos, são respectivamente: a hiperssexualização feminina na sociedade brasileira, a cultura pornificada e a necessidade da sexualização em um cenário conservador. Afinal, alimenta-se a ilusão de que há uma repressão social sobre a sexualização feminina, justamente a fim de construir um discurso que se propõe a ser “emancipatório”, mas que tão somente alimenta as engrenagens do sistema. Pois, em um simples exercício de abstração, podemos questionar: quando, em um país como o Brasil, mulheres verdadeiramente foram impedidas de se submeter ou serem submetidas à hiperssexualização?
E, se faz necessário salientar que há divergência entre “sexualização”, que se trata de um profundo processo de objetificação da sexualidade do outro e a própria “sexualidade”, que se trata da dimensão sexual da experiência humana. A sexualização está inserida em um processo de dominação sobre o outro. Nesse caso, sobre as mulheres. Em decorrência disso, a sexualização não se configura como uma escolha espontânea, a partir do momento em que as regras tácitas e explícitas da sociedade patriarcal, nos direcionam irremediavelmente a essas ações. Mulheres não podem, de fato, escolher. E pode-se realizar um pequeno exercício de consciência: quantas mulheres na indústria pop que possuem real sucesso na atualidade não são hipersexualizadas?
O discurso da suposta “liberdade sexual” na propagação da hiperssexualização não se sustenta em si mesmo, afinal, como seguir exatamente os desígnios daqueles que nos oprimem como classe, pode ser revolucionário ou libertário? Os mecanismos de controle sobre a classe feminina são deveras refinados e passam, sobretudo, pelo quesito econômico. Desse modo, as mulheres que desejam ascender socialmente carecem de se submeter àquilo que foi pré-estabelecido para nós. Pois, a sexualização não se trata exclusivamente de sexo, mas sim, de poder e controle. Quais corpos possuem o real domínio sobre si mesmos em uma sociedade patriarcal? Mulheres podem dizer “não” e prosseguir sem represálias?
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…