Do porquê não há nada mais constrangedor para um homem do que ser comparado à uma mulher
Na última segunda-feira (21/08), ministrei uma aula a respeito da sexualização e afetividade na vida de mulheres negras em um curso da Toda Cidadã. Ao longo da apresentação, proferi uma frase que muito reverberou: “o medo do homem, na verdade, é ser mulher”. Uma enunciação que mesmo tão breve, pode nos conduzir a espaços de significação profundos, como as raízes do processo de feminilização e como somos construídas a fim de que nos tornemos as antagonistas necessárias à existência e manutenção dos próprios ideais de masculinidade.
Não há homem sem mulher, assim como não há homem, se antes, não houver o medo de tornar-se mulher. Afinal, em uma sociedade patriarcal, a instância “mulher” foi construída artificialmente para condensar toda a fraqueza, servidão, vulnerabilidade e sensibilidades que na conjectura da masculinidade, representam derrota e submissão. Esses papéis, como se talhados em nossas carnes, são intransponíveis sem que haja uma modificação social profunda.
Um exemplo a ser evocado, pode ser o da mulher heterossexual que mesmo bem-sucedida, às vezes faz um PIX para o companheiro pagar a conta integral em um encontro e não se sentir ferido em sua masculinidade, ou a mulher que por ocupar um espaço profissional “dominante”, aprecia ser dominada na cama para mostrar ao parceiro masculino, ainda que inconscientemente, que é ele quem detém o poder e que não carece de sentir-se ferido em sua masculinidade. Por vezes, busca-se realizar a compensação, porque esses desbalanços estão no cerne da estrutura social; não é sobre o espaço que ocupamos, sim sobre aquilo que nos foi talhado na pele. Um homem branco classe média ainda será mais “valioso” do que uma mulher negra rica, este é um jogo simbólico.
Como dizia Simone de Beauvoir: “o homem mais medíocre sente-se um deus perante uma mulher”. Afinal, na construção hierárquica de nossa sociedade, eles de fato são; e o local da ausência de poder, dinheiro ou autonomia, é associado ao feminino. Não surpreendentemente, a autora da obra “Amar para Sobreviver: Mulheres e a Síndrome de Estocolmo Social”, traz uma perspectiva interessante a respeito da própria homofobia, sugerindo que o ódio desmedido dos homens heterossexuais aos homens homossexuais, é suscitado pelo fato de que os mesmos utilizam o ato penetrativo, reservado à subjugação feminina, em outros homens, evocando assim o medo de tornar-se também em uma mulher. O eterno “não aja como uma mulherzinha”, ou o “vai virar uma mulhererzinha”, que perturba o imaginário masculino desde a infância.
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…