Written by: Feminismo Raiz

“Isso é coisa de mulher”: a feminilidade e as mentiras que eles contam

Porque somos convencidas de que a feminilidade patriarcal é “coisa de mulher”?

Quando abordamos as questões específicas da feminilidade patriarcal no contexto contemporâneo, nos deparamos com uma das inúmeras contradições que sustentam não apenas o capitalismo, como também a própria estrutura patriarcal: precisamos ser convencidas de que os papéis que fomos coagidas a incorporar são, na verdade, representações autênticas do Eu. 

Ao longo de séculos, desde a apropriação masculina dos signos de poder e o seu triunfo sobre as comunidades e modos de vida matrilineares, todos os símbolos de vigor, poder, força e soberania, foram sequestrados pela masculinidade e incorporados ao arcabouço imagético masculino. Ao homem, é destinado tudo aquilo que nos faça recordar de instâncias tais como a seriedade, a inteligência e a superioridade. Seja das cores sóbrias, a ideação de “adultez” e a vida pública, até as posições s*xu@is, que fazem alusão à sua manutenção “no topo”, homens são configurados para que sejam eternos agentes, jamais objetos.

Em contrapartida, aquilo que se concebe como “feminilidade” em um contexto no qual a casta masculina dita as regras simbólicas há mais de 5 mil anos, nada mais é do que o oposto daquilo que já foi apropriado pelos homens. Somos fracas, porque eles são fortes. Somos fúteis, porque eles são hiper-intelectualizados. Gostamos de cor-de-rosa, porque eles gostam de preto. A mulher é-em-oposição, porque não há dominantE sem que haja dominadA. A domina é, sobretudo, esta criação artificial. Posta em um molde à sombra daqueles que a dominaram e tanto a temem.

As ditas “coisas de mulher”, são a personificação das ideações e anseios masculinos estampados sobre os corpos de fêmeas humanas ou de figuras que considerem feminilizadas ou afeminadas. Por conta disso, foi simbólico o momento no qual Barbie descobre que, na Mattel, há apenas executivos de alto-escalão do sexo masculino. Alguns poderiam conceber que se trata de uma crítica ao fato dos maiores líderes de corporações serem homens, mas se trata de algo muito mais profundo: a feminilidade perfeita é o produto dos sonhos de um homem. A feminilidade patriarcal em nada configura sonhos, expectativas e anseios naturais de mulheres.

Ao fim, descobrimos que são os homens que brincam constantemente com bonecas. E ao durante, fazem-nas acreditar que podem ser o que desejam, que podem pertencer a linhas diferentes. Apenas para que não se esqueçam de que todas são o produto artificial dos seus sonhos segregacionários.

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Tags:, , , Last modified: 24 de julho de 2023