Dentre as suposições erguidas por indivíduos contrários ao movimento feminista de raiz, está a presuposição do “elitismo”. Segundo tais interlocutores, o feminismo radical parte de um espaço inerentemente acadêmico e jamais tornar-se-ia acessível às mulheres vulnerabilizadas pela etnia e a classe. Este argumento, repetido por alguns segmentos da Esquerda, afasta-se da realidade do movimento na atualidade e busca fomentar uma aversão baseada em inverdades.
Afinal, o feminismo radical dialoga intimamente com a experiência de vida das mulheres mais vulneráveis, haja vista a pobreza e a opressão racial serem fatores agravantes nos quesitos: violência doméstica, violência sexual, negação de acesso aos direitos sexuais e reprodutivos, exploração do trabalho doméstico e etc.
No Brasil, as maiores vítimas das violações de cunho sexual, moral e político em decorrência do sexo biológico, são mulheres racializadas. Segundo pesquisa veiculada pelo El País em 2019, mulheres pretas e mestiças receberam, em média, menos da metade dos salários dos homens brancos (44,4%). No cenário pandêmico, tal desigualdade tem conduzido mulheres à espaços ainda mais subalternizados, permanência em lares violentos e à prostituição adulta e infantil.
O Feminismo Radical utiliza-se de bases materialistas (o sexo, a raça e a classe), para ir à raiz dessas questões e buscar possibilidades de atenuação e resolução factual. Afinal, enquanto algumas vertentes debruçam-se na superficialidade, como feministas radicais buscamos compreender e modificar a realidade que afeta mulheres, – principalmente racializadas e pobres – por conta de seu sexo e raça.
Contudo, devemos compreender que todas as instituições e movimentos sociais são compostos por instâncias teóricas e práticas. Deste modo, tanto o Feminismo Radical como quaisquer movimentos sociais possuem bases teóricas. Não há um único que não as possua, e nem por isso afirmamos que todos os movimentos pendem ao elitismo.
A prática feminista radical busca contemplar todas as mulheres e, principalmente no Brasil, tem sido realizada e difundida por mulheres racializadas.