Written by: Feminismo Raiz

Ele só te quer enquanto você tem 24

Aprenda com Leonardo DiCaprio como transformar mulheres em objetos com data de validade.

Nos últimos dias, o ator e filantropo Leonardo DiCaprio (47) se tornou alvo de mais polêmicas ao ter finalizado a sua relação com a jovem modelo Camila Morrone (25). Segundo relatos, a causa da separação se deu por conta de um suposto affair entre o ator e uma mulher ainda mais jovem, a modelo Maria Beregova de apenas 22 anos. Ao longo dos anos Leonardo DiCaprio se tornou conhecido por ter estabelecido uma idade-limite para as jovens mulheres com quem se relaciona. Seguindo as estatísticas apontadas por usuários da Internet, o ator segue o mesmo padrão há muitos anos, finalizando as suas relações quando as parceiras chegam aos 25 anos.

Apesar do comportamento misógino, o ator jamais deixou de ser aclamado enquanto filantropo e defensor das causas sociais. Contrariamente, suas ações geram comentários e posturas “cômicas”, como festas de aniversário e bolos com a temática: “velha demais para Leonardo DiCaprio”. A postura do ator, apesar de se destacar em razão da idade pré-fixada, assemelha-se ao comportamento sexual e relacional de inúmeros homens poderosos e prósperos na Indústria Cultural e em outros segmentos. Afinal, a imagem de um homem mais velho e por vezes até mesmo idoso, acompanhado de uma mulher recém-saída da adolescência, não causa estranheza aos olhos já acostumados com a ratificação constante da misoginia em uma sociedade que alimenta a cultura da p5d0f!lia.

Uma das questões mais presentes na constituição psíquica de mulheres é o fantasma da rejeição. Numa sociedade patriarcal, o processo que forja a fêmea no intuito de transformá-la em mulher, funciona a partir da deterioração de sua autopercepção, autoconfiança e senso de autonomia. Deste modo, arranca-se das mulheres as suas ferramentas psíquicas para que lidem com questões complexas a partir de si mesmas e passem a projetar o anseio pela salvação, atenção e humanização na figura masculina. Afinal, mulheres não nascem humanas. Nascemos coisas e nos tornamos “humanas” e “dignas” na medida em que desempenhamos os papéis sociais que nos são destinados.

A ação esperada de uma mulher jovem e bonita, é que se utilize de sua beleza e sexualidade como um capital, a fim de conquistar status, boas condições de vida e sucesso barganhando serviços s5XUAis com homens que detêm poder. Por sua vez, homens alocados nesses cenários sabem que o desejo não reside em tê-los, mas sim em ser-lhes peças valiosas, pois há benefícios. Homens como Leonardo DiCaprio utilizam o seu status social para atrair a atenção de mulheres cada vez mais jovens, comprovando a sua virilidade e sucesso na hierarquia masculina. Afinal, quanto mais jovem, mais inocente, mais “feminina” e mais submissa uma mulher é, mais fácil se torna para o homem exercer e reafirmar a sua masculinidade, ainda que de modo aparentemente sutil.

Substituir mulheres ao completar determinada idade, tal qual se substitui peças antigas de um automóvel, somente exibe o quão as raízes de uma sociedade patriarcal estão intimamente atreladas à cultura da p5d0fili4. Desde tempos imemoriais, mulheres maduras e insubmissas foram relacionadas a tudo o que há de pernicioso nas sociedades. Na Baixa Idade Média, inúmeras foram vinculadas a supostas feitiçarias mortíferas ao ponto de serem torturadas e incendiadas. Por vezes, sob acusações de desejarem “perverter” mulheres mais jovens. A “perversão”, ao que parece, reside justamente em ensinar a autonomia e a não-dependência dos benefícios oferecidos pelos homens.

Ao longo dos séculos, mulheres foram reduzidas a objetos manipuláveis os quais deveriam estar constantemente sob controle. Afinal, são fonte de bens caros à estrutura social masculina: novos cidadãos, trabalhos sexuais e trabalhos de cuidado. Numa sociedade na qual em diversos países mulheres não mais são “forçadas” por suas famílias ou por todas as circunstâncias a barganhar seus serviços sexuais e sua juventude com os homens, a própria estrutura encarregou-se de fomentar os seus novos e atualizados métodos “empoderados” para “jovens maduras”.

O que Leonardo DiCaprio faz não é cômico, não é interessante para as mulheres enquanto classe e é misógino. Percebemos assim, que um bom ativista social masculino não precisa deixar de odiar ou menosprezar mulheres. O homem ideal precisa ser apenas o homem comum.

E eles nos querem apenas quando somos jovens.

Quando envelhecemos, “perde a graça”.

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Tags:, , , Last modified: 23 de setembro de 2022