Written by: Feminismo Material

Mulheres mais velhas são BRAT

Eu sou uma mulher na casa dos vinte anos. Ao longo da vida, percebi através de diversas experiências que mulheres estão em circunstâncias desfavoráveis nas esferas sociais — desde os produtos populares da indústria cultural nas décadas de 1990 e 2000, até os desígnios religiosos, o submundo sexual e os papéis aos quais fomos historicamente atribuídas. O olhar ambivalente sobre nossas mães, tias e avós, nos fez pensar em quais desafios estão no horizonte nas próximas décadas de nossas vidas.

Entretanto, enquanto muitas de nós nutria secretamente admiração, curiosidade e espanto criativo sobre esta fase misteriosa e emblemática, se fazia notória a repulsa masculina — fosse pela ideia de uma mulher ‘dessexualizada’, pelas modificações corporais trazidas pelo passar dos anos ou fosse, de certa forma, pela expressão categórica de sua misoginia. Homens repudiam o amadurecimento feminino. Não surpreende que no escopo do imaginário social, fundamentado produções artísticas masculinas, os corpos de mulheres mais velhas sejam utilizados como moldes para bruxas, demônios ou um horror baseado em frustração sexual e inveja dos corpos de mulheres mais jovens, como no filme X: A Marca da Morte.

Mulheres são socialmente incentivadas a temer por completo a expressão de seu amadurecimento, seja esta mesma física ou psicológica, precisamos nos manter puras — ignorantes, sem pelos, com uma vulva inexpressiva e sem formas, com olhos de ninfeta e sem qualquer espécie de personalidade. Ah, e precisamos odiar mulheres que defendem a si mesmas como indivíduos, no alto de sua subjetividade bela e dimensionada

Mulheres jovens recebem atenção masculina baseada no quão dispostas estão a ceder partes de si, a fim de que sejam canibalizadas e parasitadas pelas fantasias dos homens. No auge da ignorância de uma adolescência e juventude sem contato com mulheres mais velhas, experientes e que de fato desejam auxiliar, se tornam alvos fáceis para a desintegração proposta pelo modus operandi masculino. 

Mulheres jovens que decidem erguer-se por sua subjetividade e, por conseguinte, por mulheres mais velhas, são traidoras, inimigas, cavalos de troia que descobriram o plano secreto antes do tempo — e estão por aí, “contaminando” outras jovens que não deveriam saber a verdade até terem quarenta anos, sido casadas e tido os filhos de homens medíocres. Eles não desejam que nenhuma mulher saiba há tempo.

Eles não desejam que nenhuma de nós saiba que mulheres mais velhas são BRAT. As mulheres que carregam consigo sua inteireza e não temem ser imensas, aquelas que exploram a fundo o seu desejo de ser e construir existência, aquelas que ficam mais autênticas, mais experientes, mais cultivadas, mais expansivas, mais expostas. Mulheres mais velhas são o futuro mais bonito que se pode vislumbrar, ainda que desejem-nos enclausuradas em uma perpétua juventude fetichizada, pequena, de plástico

Em tempos de rivalidade, etarismo e de discursos feios e desistentes sobre as fases da vida feminina, eu escolho estar ao lado das mulheres mais velhas. Elas são o meu futuro. E eu, sinceramente, espero ser tão BRAT quanto todas elas. 

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Tags:, , , Last modified: 28 de março de 2025