Nas últimas semanas, a cantora e compositora norte-americana Lana Del Rey, conhecida mundialmente por hits como “Video Games” e “Summertime Sadness”, se tornou alvo de comentários gordofóbicos e misóginos que faziam referência ao ganho de peso que a artista tem vivenciado desde 2020. Nas redes sociais, após serem compartilhadas fotografias de Lana em Los Angeles, utilizando uma blusa curta, calças jeans e prendedores de cabelo, pessoas sustentaram a postura de que a artista estava “g*rd4 demais” para determinados figurinos que tem utilizado desde o início de sua carreira.
A Indústria Cultural possui um extenso histórico negativo no que tange tratar mulheres como produtos com curtíssimo prazo de validade. Além de explorar a hipersexualização daquelas que crescem no cenário artístico, a ânsia por uma estética cada vez mais infantilizada, fragilizada ou hipersexual, molda a persona de inúmeras artistas que alcançam o estrelato. Apesar de ter despontado no cenário musical de forma independente, Lana Del Rey, com suas canções melancólicas, hiper-feminilizadas e profundas, galgou espaço e recebeu títulos como o de “uma das 100 mulheres mais sexy do Mundo”. Entretanto, com o passar dos anos e as mudanças em seu corpo e exposição, a artista passou a ser massacrada ao não enquadrar-se na estética hiper-feminilizada que anseiam das mulheres no cenário cultural.
Afinal, a feminilidade estética se baseia em estereótipos de gênero que possuem conexão intrínseca com o eurocentrismo, a cultura da p5d0f*L!4 e os ideais de fragilidade que configuram naquilo que é socialmente percebido como um corpo magro, indefeso ou com curvas desproporcionais (valorizando a gordura nas nádegas e nos glúteos, preterindo-a em abdômen e braços). O controle sobre o peso e a estética das mulheres diz imenso a respeito do contexto cultural no qual estão inseridas e de qual maneira o Patriarcado se manifesta em suas comunidades.
Por exemplo, na Mauritânia, o padrão estético feminino durante inúmeros anos foi a gordura. Mulheres com muito peso são consideradas as mais atraentes, pois a sua estatura afirma o poder financeiro de sua família. Em decorrência disso, a partir dos cinco anos de idade meninas são submetidas a um “ritual de engorda”, que culmina em diversos problemas de saúde. Afinal, os homens de suas comunidades preferem mulheres consideradas fartas e assim os seus corpos carecem de ser moldados a fim de atingir o objetivo cultural e satisfazer os desejos da classe masculina de sua etnia. No outro extremo, países como os Estados Unidos, a Coreia do Sul e entre outros, idolatram a magreza como valor simbólico a partir dos desejos dos homens de suas sociedades. Em ambos os casos, os corpos das mulheres são vislumbrados de forma antinatural e não-humana, sendo reduzidos a meros objetos que podem ser “danificados” por homens ao seu bel-prazer.
Não se deve esquecer que a regulação sobre os corpos das mulheres não se resume ao controle de suas capacidades sexuais e reprodutivas, mas também de sua saúde, de sua estética e, principalmente, de sua mobilidade. Mulheres “dopadas” pela indústria da beleza, da p0rn*gr4f!A e do entretenimento pop, são facilmente alienadas do conhecimento sobre a sua postura política dentro da estrutura patriarcal e se tornam psicológica e fisicamente mais vulneráveis.
Eles nos fragilizam, para nos controlar.
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…