Dentre as características da dominação colonial na América do Sul, a colonização cultural e religiosa se tratou de um fator essencial à plena institucionalização do genocídio negro e indígena e das aplicações da opressão contra mulheres à moda europeia nas terras brasileiras. Contudo, vivendo no século XXI, sabemos que a violência utilizada no período inicial, já não seria de todo completamente possível. Deste modo, os novos meios de dominação possuem etapas específicas de lenta colonização cultural, política, religiosa e psicológica.
O Brasil, até o final dos anos 1990, se tratava de um país majoritariamente católico, até que no início dos anos 2000 experimentou uma profunda mudança de paradigma, com o crescimento da religião evangélica. Visando as populações marginalizadas e os espaços vazios deixados pela ausência do estado de bem-estar social, a fé evangélica avançou sobre as periferias, os subúrbios, os presídios e até sobre o crime organizado. Sendo, atualmente, a fé mais professada em nosso país.
“Quando aniquilaram o Congresso, não acordamos. Quando culparam os terroristas e suspenderam a Constituição, também não acordamos. Disseram que seria temporário, mas nada muda instantaneamente. Em uma banheira de aquecimento gradual, você ferveria antes de perceber.
— Margaret Atwood, O Conto da Aia
Entretanto, o projeto de poder dos grandes nomes por trás do movimento evangélico sempre esteve relacionado a uma agenda que flerta com a restrição das liberdades individuais, o extremismo e a cassação dos direitos das mulheres e dos LGBT. Em um país marcado pela hiperssexualização, o caminho foi longo até que atualmente tivéssemos quase todos os canais televisivos dominados pelo segmento cristão, uma bancada evangélica robusta, templos gigantescos e lavagem de dinheiro alinhada à manipulação da fé alheia e lavagem cerebral em larga escala.
No seio desse projeto, reside a necessidade da crise política, econômica e sanitária. Afinal, o caos é uma das principais ferramentas para a radicalização e a busca por modelos sociais mais arcaicos, que oferecem uma falsa segurança conservadora. Apesar de estarmos a discutir progressismos e pós-modernidades em bolhas nas redes sociais, não se deve esquecer que no cenário maior, o Brasil tem se tornado cada vez mais conservador, alheio aos direitos das mulheres e dos negros e a um passo de atingir o objetivo final daqueles que cresceram às margens do Estado, mas que sempre desejaram dominá-lo.
Você não percebe que a água está sendo aquecida, até que você tenha sido fervida(o).
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…