Como uma mulher negra, cresci com a crença de que havia poucos espaços nos quais eu poderia enraizar-me e frutificar. Criada em um mundo inóspito, no qual mulheres negras não passavam de uma ou duas nos ambientes significativos, acreditava que precisava ser única, disruptiva, inigualável e não-copiável para que fosse significante. Afinal, quando se é negra, não há meio termo: ou somos extraordinárias, ou somos miseráveis. Eu quis ser extraordinária, eu consegui. Contudo, a sensação palpável de um espaço sempre em disputa, sempre diminuto e sob o risco de tomada imediata, não me permitia experimentar a paz e gozar das conquistas que floreavam o meu caminho.
Eu era uma mulher como a descrita por bell hooks no capítulo 11 da obra “Irmãs do Inhame: Mulheres Negras e Autorrecuperação”. Acreditava que o mundo era um “grande sistema de rendimentos decrescentes”, acorrentada na perspectiva de um hiper-individualismo que dizia: “mulheres negras só funcionam, se trabalham sozinhas”. Muitas de nós crescemos em lares ou em circunstâncias nas quais podíamos contar apenas conosco mesmas. E isso, de certa forma, molda o quão aptas nos sentimentos para solicitar auxílio, assumir fracassos, abrir caminhos para que outras mulheres negras também possam trabalhar a partir do seu Eu-autêntico e crescer.
Esta mensagem é direcionada para mulheres negras, mas também se estende a todas as mulheres. Quantas de nós rivalizamos propositalmente com amigas, mães, primas, digital influencers e tantas outras mulheres, porque queremos provar algum ponto, porque sentimentos inveja, porque caímos na armadilha de desumanizar outra mulher?
O lugar solitário no pódio existe, se é isso que você procura. Mas nunca se esqueça de que, sozinha, é muito mais fácil cair de lá. O projeto de ascensão das mulheres negras, nas suas mais diversas áreas e formas de vida, carece de ser coletivo. Não se fazem mudanças estruturais com uma única mulher em espaços de poder, a diferença é feita quando somos várias, múltiplas, em todas as áreas — em prol do nosso bem-viver enquanto projeto político.
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…