Written by: Feminismo Raiz

O mito da união natural entre mulheres

Por que ainda pensamos que todas as mulheres estão “do seu próprio lado”?

Como mulheres, fomos socializadas e nos desenvolvemos em um ambiente hostil, no qual nos foi retirada a autonomia e fomos condicionadas a determinados comportamentos a fim de que sobrevivêssemos em uma sociedade que estruturalmente nos detesta. Nessas condições, é usual que apesar de reproduzirmos a misoginia internalizada, desejemos igualmente fugir da mesma e passemos a nutrir fantasias a respeito de contextos nos quais mulheres de fato tenham superado este aspecto da socialização e haja possibilidades para uma real aliança na classe feminina.

Desta forma, muitas mulheres consideram que o ativismo social feminino, seja ele o feminismo, o mulherismo, o mulherismo afrikana e tantas outras tentativas de emancipação coletiva da classe feminina, sejam o tão sonhado espaço seguro no qual poderão ver-se em harmonia total com outras mulheres. Contudo, frustram-se ao perceber que estavam equivocadas. 

Se faz necessário jamais perder de vista o fato de que, para a manutenção funcional de um sistema de opressão, se faz essencial que a (o) oprimida (o) tenha internalizado perspectivas e comportamentos contrários a si mesma (o) e a sua própria classe. A dominação de um povo ou de um grupo não se mantém, caso o mesmo não seja sabotado naquilo que há de mais íntimo: o seu psicológico e o seu imaginário.

Crescemos a contemplar outras mulheres a serem retratadas como bruxas, megeras, frígidas, cruéis… inimigas. Tais imagens, atreladas ao fato de que realmente carecemos de competir em diversos espaços para que possamos sobreviver, conduzem mulheres às piores relações possíveis. 

É necessário encarar essa mácula nos olhos e afirmar com franqueza: mulheres podem ser cruéis com outras mulheres, e isso é um sintoma da sua socialização. O feminismo não se constrói a partir de fantasias cor-de-rosa. Se desejamos atingir verdadeiramente a tão sonhada coesão, precisamos nos propor a tratar das feridas.

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Tags:, , , Last modified: 26 de junho de 2022