Desde os primórdios da hierarquia patriarcal, instituições foram fundadas a fim de manter o controle e a hegemonia sobre os corpos femininos. O Estado, a Família e a Religião se tratam de pilares que foram erguidos no intuito de legislar política, sexual e psicologicamente sobre as capacidades femininas. Não obstante, uma das instituições mais pungentes infligidas à classe feminina, se trata do Casamento. Afinal, através da união conjugal, a mulher tornava-se objeto direto de satisfação sexual, emocional e social do homem. Os filhos garantiam a perpetuação do capital e renome atribuído às famílias e o controle de sua sexualidade garantia a passividade e serviços domésticos necessários a fim de manter o homem (operário ou patrão) disponível às suas atividades exteriores.
A partir do século XVII e o domínio europeu, o papel outrora relegado às mulheres caucasianas pobres, fora atribuído às mulheres negras. A mulher branca, tratando-se do objeto direto do homem branco, passara a ser “poupada” dos afazeres domésticos e cuidados maternais, delegando tais serviços às escravizadas e posteriormente às babás oriundas do Sul Global. Deste modo, surge o imbricamento primordial no discurso feminista negro: o papel duplamente domesticado das mulheres negras.
Segundo bell hooks, diversas mulheres pretas queixam-se de possuírem pouco ou nenhum amor em suas vidas e isto, certamente, reverbera-se nas suas relações. Sendo alocadas em imagens de controle desumanizantes, mulheres pretas tendem a ser emocionalmente isoladas, vivenciando uma solidão que está para além do desprezo afetivo-sexual. Pois, após serem bombardeadas por discursos de ódio, quaisquer migalhas de amor tornam-se significativas. Nisto reside o perigo.
E, estimuladas por um cenário hostil, tais mulheres tornam-se presas de relacionamentos abusivos. Afinal, a cultura altamente misógina e racista, nos convence de que somos indignas de amor. Alinhada à heterossexualidade compulsória e à hiperssexualização, tais fatores alocam mulheres negras em um espaço duplamente submisso e perigoso. Afinal, se à mulher branca delegam a prisão do casamento burguês tradicional, às mulheres negras delegam a solidão das cozinhas, dos quartos de empregada e do sucesso solitário.
Só uma nota: nós brasileiros somos considerados "não-ocidentais"(non-western). Descobri isso recentemente num fórum de geopolítica enquanto procurava dados sobre Império…